Irmãos meus, as causas de minha morte podem definir-se
assim:
"O delito de Jesus, no passado, foi o de facilitar as sedições
populares, propalando por intermédio dos sacerdotes, suspeitas de
conivência com os pagãos.
"O delito de Jesus, mais tarde, foi sua
inclinação para o culto fundado pelo próprio Deus, e esta
inclinação para o culto resultou de maior gravidade e de maior poder
de sedução pela qualidade de filho de Deus que Jesus se atribuía.
"A lei mosaica tinha que alcançar a Jesus a quem tinham que
infligir-lhe o suplício da lapidação. Porém, a opinião da casta
sacerdotal precisava da adesão dessa mesma autoridade que com
freqüência se desinteressava das questões que suscitavam entre os
hebreus, e precisava-se também do concurso popular para o cumprimento
da vingança do clero. Pelo que tomaram-se das últimas pregações de
Jesus provas de culpabilidade como perturbador e abolicionista das leis
civis, além das religiosas, para fazê-lo cair sob a jurisdição de
Pôncio Pilatos, procurador romano. E perante o povo Jesus foi acusado
de sedução e pacto com o espírito das trevas".
Refiro aqui os motivos de minha condenação, motivos cujo valor
discutirei depois, ao mesmo tempo que darei uma explicação de cada um
dos delitos que me imputavam, por efeito de uma reprodução inexata de
meus ensinamentos. Isto nos conduzirá a extensas explicações e terei
que honrar a coragem de meu intérprete, que sofrerá por estes
minuciosos detalhes, mais do que tenha sofrido por causa das anteriores
pressões de meu espírito.
José e Andréia preparavam as humilhações
que amarguei mais tarde, referindo lamentáveis episódios de minha
infância, referentes aos últimos dias de meu pai e ao abandono de
minha mãe. Eles agregaram à expressão de sua falsa piedade pelo que
designavam como minha pobreza intelectual, a difamação de minha vida
íntima e de minha qualidade de filho de Deus, por meio de vis
espionagens, com juízos desleais e com uma designação burlesca em
lugar da que eu havia tomado.
Não busquemos, irmãos meus, nos livros
do antigo estilo uma explicação do título de filho do homem, que se
me outorgou por escárnio, como acabo de dizer. Desembaracemo-nos das
tenebrosas histórias para poder elevar nossa narração até à
simplicidade do espírito, que tudo o esclarece, Não levantemos, por
outra parte, uma desaprovação demasiado severa sobre certas
personalidades desde que o fermento das idéias e o impulso do espírito
resultam muito a miúdo de causas obscuras para a inteligência humana. Defendamos nossa alma e nosso espírito contra
todos os entusiasmos e contra todo o preconcebido. Façamos distinção
entre as diversas graduações, porém não maldigamos ninguém.
Façamos da vida de Jesus um código de moralidade para todos os homens
e esforcemo-nos em demonstrar que a vida humana deve ser respeitada,
porque ela é uma emanação da alma divina. A vida humana encerrada nos
limites impostos pelo Criador é um descanso em meio do caminho da
imortalidade. A vida humana deformada pelo vício, encurtada pelos
excessos, torturada pelos ódios, despedaçada pelo delito, representa
uma espantosa falta de razão que revela a bestialidade da natureza,
ainda não domada a tendência para a bestialidade primitiva,
por causa
de um regresso na ordem ascensional; as duas, bestialidade de natureza e
bestialidade regressiva, constituem os verdadeiros flagelos do
mundo. A
primeira revela a força brutal da besta; a outra dirige as tendências
da besta como que para fazê-las mais mortíferas. As duas desenvolvem,
mediante o contato, os males asquerosos da alma, do espírito e do
corpo; as duas marcham entre o sangue, alimentam-se de orgias,
adormecem, vencidas pela saciedade, sobre ruínas.
Representando-vos a
Jesus nos últimos momentos de sua vida de Messias, irmãos meus, não
alimento a idéia de chamar vossa atenção tão-somente sobre Jesus,
porém, sim, peço que todos os que leiam estas páginas reflexionem
profundamente a respeito dos ensinamentos que elas oferecem à sua
consideração. Não tenho mais que um propósito, e este é o de
converter em melhores aos homens, propósito que será alcançado se
eles meditarem sobre minhas palavras.
Defino as feridas de minha alma
para caracterizar a aproximação que existe entre as almas humanas.
Explico a culpável intenção dos que me desconheceram para voltar a
trazer para uma suave resignação aos que se vêem caluniados. Declaro
inimigos meus aos perspicazes, aos orgulhosos, aos depravados,
reconhecendo em troca como novos discípulos aos homens de boa vontade,
aos humildes, aos deserdados de bens do mundo, aos famintos dos tesouros
eternos. Sempre digo: O que não é por mim é contra mim. Felizes os
que fazem provisões para a vida futura e que caem na pobreza
voluntariamente durante a vida presente; o reino de Deus pertence-lhes.
Buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. A luz e a verdade são dons de Deus, espalhai-as
amplamente entre todos os que as solicitam, com o ardor de uma alma
livre e com um espírito desejoso das cousas celestes. Porquanto eu sou
sempre o Messias, filho de Deus, que baixa da luz para amparar tudo o
que já amparei, para defender tudo o que já defendi, para combater
tudo o que por mim já foi combatido. Porquanto eu venho para destruir e
para reconstruir, para demonstrar a meus discípulos qual é o reino a
que eles devem aspirar. Tal reino não é deste mundo. Não há mais
lugar para equívocos. O espírito liberto das sombras da natureza
humana ilumina-se de luz divina, não lhe sendo já possível desviar-se
por ignorância nem diminuir-se por temor das crueldades dos espíritos
humanos. Este espírito, desde a elevação no meio da qual Deus o
admitira, baixa a este mundo para trazer-vos a concórdia e a
esperança, proclamar a imortalidade e o amor universal, em nome de
Deus.
Volvamos, irmãos meus, ao ponto em que vos deixei no final de meu
último capítulo.
A tranqüilidade de que eu gozava na Betânia
parecia-se ao silêncio que precede às explosões, porque em
Jerusalém, o ódio surdo dos sacerdotes começava a manifestar-se
ostensivamente e o povo, de cujas simpatias eu gozava desde as bravatas
que lançara nas proximidades do Templo, prestava ouvidos complacentes
aos murmúrios que se faziam correr a respeito da inépcia e falsa
virtude de minhas máximas, da vaidosa pretensão de meu espírito, que
eu me haveria comprazido em evidenciar, conjuntamente com as
demonstrações de minha pobreza e abnegação corporal. Minha mãe
encontrava-se em Jerusalém devido a um chamado de Maria de Magdala. Ela
era tomada nesses momentos duma inquebrantável vontade. Negou-se a
voltar para Nazareth e me vi obrigado a contemplar até minha morte essa
sua tristeza que constituía uma viva censura para meu sacrifício, essa
dor que penetrava em minha alma, enfraquecendo-a. Maria de Magdala
empregava, ante mim e minha mãe, toda essa energia que pode arrancar-se
da paixão e de toda essa doçura e suavidade que nasce da prece.
Retorcia-se nos espasmos do desespero ou ajoelhava-se piedosamente para
pedir a Deus o poder de abalar minha resolução. Ela arrojava-se a meus
pés, para manifestar me, com voz baixa e trêmula, toda a felicidade de
um amor puro, porém invasor dos ímpetos da alma e das faculdades do espírito. Depois
levantava-se, abraçava minha mãe e cobria-a de beijos frenéticos e
suplicava-me que salvasse as duas da morte e do inferno, aonde seriam
arrojadas por meu suplício e minha glória.
A repetição de tais
demonstrações produzia no meu espírito o efeito de acidentes que
interrompem o curso dos pensamentos. Sentia-me prostrado pela emoção
quando algum feliz abalo vinha arrancar-me dos braços maternos que
pretendiam reter-me com seu contato ardente, capaz de tornar-me louco ou
covarde.
Maria de Magdala não era estimada somente por minha
mãe:
todos os meus discípulos e as mulheres vindas da Galiléia a estimavam.
Marta, Simão, a jovem Maria notavam nela as sólidas condições da
mulher desenganada e cansada dos prazeres mundanos, ao mesmo tempo que
descobriam-lhe o semblante resplandecente pela graça e suaves
condições da alma.
Maria de Magdala
era mais instruída que a maior
parte dos que me rodeavam. Ela me era devedora do desenvolvimento de seu
espírito e da certeza de seu conhecimento, porém, ainda antes de nos
havermos encontrado, ela possuía já mais conhecimentos do que
possuíam em geral as mulheres desse tempo. Maria teria sido perfeita
sem a concentração de sua alma para uma pessoa, se bem que amava,
apesar de tudo, a Deus com sinceridade. - Pobre Humanidade!
Propus a
minha mãe que me acompanhasse a Betânia, para que não oferecesse a
meus irmãos um apoio com sua presença, porquanto não dissipava neles
o desatinado propósito de seguirem- me. Pus deste modo fim às nossas
penosas reuniões.
Minha mãe dedicava-me mais carinho do que aos seus
outros filhos. A elevada opinião que ela formara a respeito de meu
destino, quando meu tio Tiago quis participar de meus trabalhos e de
meus perigos, serviu para exaltar esse sentimento filho dos cuidados e
inquietações que lhe havia proporcionado o mais débil e menos
simpático dos membros de sua numerosa família.
Depois de nossa última
entrevista em Nazareth, minha mãe alimentava um só desejo: salvar-me
da morte. A descoberta que ela fez do profundo afeto de Maria
proporcionou-lhe uma esperança à qual associou todos os outros
recursos pessoais, que considerou úteis para seus fins. - Mãe infeliz!
- Cem vezes mais infeliz que se houvesse compreendido desde o princípio a
inutilidade de seus esforços. - Mártir humilde! - Mártir cujo
martírio foi cem vezes mais cruel do que se houvesse aceitado, como uma
ordem de Deus, a renúncia e a separação.
Irmãos meus, a expansão de
uma alma de Deus não basta para dar-lhe a suprema compreensão da fé,
e minha mãe, minha terna mãe, impregnada das teorias de uma religião
imperfeita, não podia, apesar de sua confiança em mim, renunciar a
tudo o que havia acreditado e praticado até então.
A liberdade da alma
adquire-se por meio da força intelectual do espírito. Por força
intelectual não entendo as aptidões mais ou menos pronunciadas para o
estudo das ciências exatas, senão o impulso positivo da idéia para a
solução de tal ou qual problema colocado no campo do infinito; entendo
determinar a força intelectual do espírito, alimentando-a com o desejo
fervoroso de conhecer as origens e imprimindo-lhe o cunho de uma vontade
inalterável de avançar sempre e mais.
Repelir uma crença que se
apóia tão-somente sobre velhos preconceitos e errôneas referências,
para abraçar uma fé radiante de verdade, no meio de um céu de luz
fascinadora e infinita, é um fato que não pode produzir-se senão com
a derrocada das aspirações materiais, com a absorção do princípio
terrestre do espírito efetuado pelo princípio espiritual do mesmo
espírito. É então que se rompem as sujeições da alma e que ela,
possuída de sua liberdade, segue o espírito que se encontra na posse
de suas forças.
Deus não se revela à alma que, embora amante, se
torna escrava de um espírito que age unicamente por solicitações e
não por própria ciência e consciência. Deus, pois, não se revelava
senão em parte, à mulher piedosa, porém ignorante das fadigas que
transportam para as delícias da fé, dessa fé sem contradições e sem
terrores, que paira acima dos perigos e sorri no meio das torturas, que
recebe luz de origem divina para cumprir todos os deveres, destruir
todas as humilhações, avançar para todos os heroísmos.
Se minha mãe
houvesse facilitado minha missão com sua fé, irmãos meus, ter-me-ia
poupado uma grande amargura durante as lutas de meus últimos dias,
entre as recordações da vida que fugia e as promessas da vida que se
aproximava. Se minha mãe e Maria de Magdala se tivessem associado em toda a plenitude da fé,
dentro de minhas crenças, meu espírito ter-se-ia mantido à altura de
minha família espiritual, mas pelo contrário a tendência carnal
desses dois amores diminuiu minhas forças e preparou minha fraqueza
sobre o madeiro do sacrifício. Minha fé não se dobrou. Quando a fé
se estabelece sobre a realidade demonstrada materialmente, não pode
enfraquecer-se; mas a natureza humana humilhava tão profundamente o
espírito agitado sob a pressão das fantasias contraditórias, que
tinha que fazer um esforço para reconquistar essa liberdade tão
querida e tão necessária para um apóstolo de Deus.
A dependência dos
espíritos aumenta em relação com a inferioridade do mundo em que
habitam, e acrescento que apesar das luzes espirituais e da força
intelectual de um espírito, ele tem que sofrer mais ou menos
deploravelmente pelas sombras lançadas sobre seu ideal e pelos assaltos
dados às suas convicções, em um mundo em que todas as crenças
religiosas se traduzem tão-somente com demonstrações referentes ao
passado, ao porvir, ao presente e à honra do espírito.
A família dos
homens é constituída de alianças sem homogeneidade e sem força
coletiva para alcançar seu objetivo. Estas alianças se convertem em
lamentáveis provas para os espíritos honrados com a elevação
alcançada precedentemente na jerarquia moral e intelectual.
No
exercício de sua liberdade o espírito encontra a calma necessária
para a sua fé, o ardor para as concepções atrevidas e a decisão para
dirigir sua obra. Porém, pode acaso esta liberdade ser completa e
duradoura? Desgraçadamente, não! - Não, porque a triste dependência
dos espíritos, uns dos outros, deve existir para o estabelecimento da
justiça de Deus nos mundos em que a destruição das espécies
inferiores por outras espécies superiores, assinala uma marcha
progressiva até chegar ao homem; nos mundos em que a enorme
desproporção dos espíritos entre si provém de causas laboriosamente
definida pela ciência que demonstramos, ciência que reconhece a
imutabilidade das leis naturais. Agora, constituindo uma lei deste mundo
a dependência material para os espíritos, ninguém pode iludi-la, e o
espírito superior que se encontra aqui de passagem, conquista uma
liberdade provisória ou se entristece na escravidão de sua vontade. As fraquezas da fé são inerentes a toda a crença sustentada com o
auxílio de concessões da razão. As fraquezas na fé constituem
motivos de constantes esforços para todos os que praticam uma religião
sem compreendê-la. O fanatismo, que consiste em uma fé ardente privada
da razão, deve ser considerado como uma enfermidade do espírito. A fé
verdadeira jamais se separa da razão. Ela assinala uma personalidade
convencida dos atributos divinos e esta personalidade vê-se obrigada a
curvar-se perante os deveres que daí lhe resultam.
Qualquer que seja a
causa diretriz do dever, ela é o resultado de lutas, de claudicações,
de faltas anteriores do espírito, e os deveres futuros do mesmo
espírito se constituirão do mesmo modo, sobre a base de seus meios
atuais. Somente com muita lentidão a natureza humana pode desprender-se
de suas tendências carnais, pois só a fé verdadeira proporciona o
estímulo da coragem, a perseverança nas empresas, o desprezo pelos
perigos, e o estudo dos deveres torna-se cada vez mais fácil, a
matéria desgasta-se ao conquistar o espírito novas posições, o qual
se eleva de etapa em etapa até o aniquilamento da matéria. Irmãos
meus, a fé verdadeira honra a inteligência laboriosa que percorreu
diversos caminhos, os quais lhe serviram de protetores. A fé verdadeira
é o prêmio de todos os espíritos anciãos, cujo adiantamento
intelectual não se vê deprimido pela decadência moral.
Fé
resplandecente! Tu nos confias o segredo de nossos destinos. Tu nos dás
a explicação de Deus, da sublimidade de suas leis, do poder de sua
justiça e de seu amor; tu apontas o dever com a certeza de seres
compreendida... O dever descansa no cumprimento da lei geral e nas
obrigações morais, estabelecidas em nome dos princípios do direito
individual. A lei geral, princípio de direito individual,
emancipação, deduzida de uma criação inteligente; imortalidade,
conseqüência da perfectibilidade; vós exibis o espírito humano ao
desprezo das grandezas universais, porque o espírito humano pratica ou
aprova o homicídio.
A família humana ultrapassa todos os erros da
razão, quando afirma o direito de morte.
Deus, árbitro soberano dos
espíritos, concede-lhes o corpo como instrumento, e o corpo conserva-se
mais ou menos tempo, segundo a direção que lhe é impressa pelo espírito e o lugar
habitado pelo espírito e pelo corpo.
Decrescimento antecipado de
forças, ou debilidade de nascimento, intermitência de saúde e de
enfermidade, desenvolvimento feliz ou extenuação prolongada, amplitude
de manifestação ou opressão servil, decadência natural ou acidentes
fortuitos, tudo isto demonstra o cansaço atual ou o cansaço
precedente, tudo isto explica a disciplina universal por meio da prova e
da reabilitação, e rechaça os nomes, os mais monstruosamente
estúpidos como: Deus dos exércitos, Deus vingador, Deus ciumento, Deus
terrível.
Vis assassinos, defensores embrutecidos de uma causa má,
defensores sagazes de uma causa incompreensível, heresíarcas realmente
convencidos ou valentes apóstolos de uma falsa religião, que julgais
verdadeira, todos vós sois mais ou menos culpados diante de Deus e Deus
vos julgará.
Delinqüente endurecido, hás de permanecer perturbado
enquanto não apareça o arrependimento como indício de castigo e a
expiação voluntária te seja levada em conta como atenuante. Mas,
chegado a este ponto, poderás trabalhar sob as vistas de Deus e teu
trabalho será recompensado. Pobre ignorante! Hás de vegetar entre
inquietações e indecisões, até à aparição de uma luz distante que
irá aproximando-se e tornando-se cada vez mais visível. Livres ou
encarcerados, mestres de verdade, discípulos conscientes do erro, Deus
vos terá em conta as circunstâncias desses erros, da causa de vossas
fraquezas e reparareis vossas culpas e gozareis das honras devidas às
reparações.
Assim é a justiça de Deus. Ela levanta os maiores
culpados, ordena a emancipação, leva em conta os trabalhos, pesa os
atos de valor, prepara novas glórias a seus Messias, depois de haver
purificado seus espíritos, ofuscados pelas glórias precedentes.
Justiça dos homens, quando chegarás a ser uma cópia da justiça de
Deus?
(Irmãos meus, emprego aqui a palavra justiça, para designar
vossa força social; mas vossa força social, encontrando- se privada da
idéia que representa a palavra justiça, reconheço que esta palavra é
deficiente e continuarei empregando-a tão-só para ser compreendido.)
Justiça dos homens, a que deixa envilecer-se com todos os vícios
uma forma humana, e que, em um momento dado, toma esta forma humana e
mata sob o pretexto de dar um exemplo de que precisa a sociedade,
embebida das mais abomináveis máximas de imoralidade e desprovida do
sentido intelectual até o ponto de, por uma parte, os mandamentos de
Deus, continuamente repetidos, não serem jamais observados, e, por
outra parte, negar-se a existência de Deus; justiça dos homens, a que
decreta a morte com o sentimento do dever cumprido, que se apóia na
mentira ao invocar a Deus para matar, e que resulta sempre como uma
conseqüência dos instintos da natureza bestial, qualquer que seja a
crença religiosa de que se alardeie!
Depositários da força social, os
postos que vós ocupais neste mundo de provas são conseqüência
natural das dependências humanas e preparam outras dependências
humanas. A expressão de vosso poder, não havendo tido jamais causa
motriz à emancipação dos espíritos e à justa distribuição dos
auxílios materiais, constituirá sempre uma vergonha e uma condenação
para vós. Alcançareis o sentimento de vossa inferioridade na
lembrança das explosões de vaidade de vosso orgulho e sofrereis a
terrível pena de talião, aplicada inexoravelmente em todos os casos de
sangue derramado deliberadamente ou com a fria crueldade de uma
inteligência humana. Eis, ó depositários da força social!, os
castigos aplicados a todos os homens que tenham dirigido outros homens,
sem antes iluminarem-se com o sentido moral e intelectual dos seres
superiores.
Justiça de Deus, a misericórdia te acompanha, posto que
deixas uma porta aberta para o arrependimento. Justiça dos homens,
acompanha-te a mais espantosa demência, pois que, ou nada sabes da
imortalidade, e então jogas a um precipício sem fundo todos os
pensamentos cuja origem não podes explicar, essas pulsações que fazem
palpitar outros corações, essas forças que parecem destinadas a
produzir mais do que têm produzido até este momento, (1) ou tens noções
a respeito da imortalidade, e por que então te atreves a dificultar o caminho para a imortalidade?
Espantosa demência! Já o disse, Justiça humana, Jesus como todos os
condenados, que têm tempo para isso, podia tentar iluminar-te para
salvar sua vida, somente que Jesus devia considerar-te suficientemente
iluminada, e não se defendeu. Justiça humana, pergunta a teus
mártires pelas diversas fases de sua agonia; todos te dirão que jamais
tinham amado tanto como nesse momento, aos que estavam para deixar.
Todos oferecerão minuciosos detalhes a respeito da calma fingida e dos
alardeados atos de coragem, que depõem em favor de sua valentia no
mesmo momento em que o coração geme despedaçado pelas ansiedades da
dúvida, da vergonha, dos remorsos e a naufragada esperança; quando a
alma treme em frente da horrível visão que lhe proporcionam os
aparatosos acessórios do suplício, inventados pela maldade no meio de
suas orgias.
Grande Deus! Quanto sangue derramado sobre esta terra!
Tremo ao pensar no passado, no porvir, no presente, em todos os países,
em todas as religiões, em todas as origens, em todas as castas, em
todas as sucessões, em todas as ambições e até em todos os caprichos
manchados de sangue, e dirijo a todos os mártires minhas
reminiscências de mártir, e elevo, com força, minha voz a Deus,
suplicando: Piedade, misericórdia, Pai meu, para estes homens, que uma
sociedade perversa impeliu para o delito, por meio do ateísmo, e aos
quais castiga imediatamente com o delito. Digo a todos os justos: Como
vós, sofri pela separação da carne, como vós fatiguei meu espírito
na contemplação das misérias morais, como vós duvidei da utilidade
de minha vida. E nesse momento solene em que a natureza luminosa do
espírito se turba sob o peso das aflições da vida corporal, nesse
momento precursor de minha liberdade, a elevada idéia de Deus pareceu
fugir-me e meu espírito encheu-se de dor e de pesaroso recordar.
Ai de
mim! As explosões de uma alegria grosseira, os insultos de um povo
enganado, o abandono da maior parte dos que me amavam, o desespero das mulheres que assistiam minha morte, a
opressão de uma intensa sufocação, todas as lívidas harmonias das
últimas torturas da alma e do corpo, lançaram em meu espírito uma
profunda tristeza que rompeu nesta queixosa prece:
"Pai meu, por que me abandonaste? - Mártires, maior que a
vossa, foi minha fé; mas se desmaiei ante as atrocidades da ingratidão
humana, se senti entorpecer-se minha vontade e titubear meu amor
fraterno, foi porque as dependências dos espíritos se convertem em
escolhos para os grandes caracteres, quando a força do alto não os
ampara suficientemente contra os embates que os assaltam de baixo. É
que tinha ainda demasiadas ligações para que pudesse concentrar-me
somente em Deus. Mártires, a grande voz de Deus vos diz por minha boca:
O espírito eleva-se rapidamente no estudo das leis eternas, devido a
uma morte imposta violentamente, quando esta morte não é o termo de
uma vida manchada pelo homicídio."
Irmãos meus, que um homem depravado levante sua mão sacrílega
contra uma vida humana, não significa de maneira alguma que uma
quantidade de homens tenha o direito de matar o assassino, porque o
direito de morte só pertence a Deus e não pode ser um meio para uso
das criaturas. Qualquer que seja a forma dada ao assassinato, o direito
de assassinato não pode existir, porque Deus não pretendeu alterar
tacitamente e segundo as circunstâncias, as palavras: Tu não
matarás.
Conclusão: A aplicação da pena de morte é um insulto ao
Criador.
Outra conclusão derivada do mesmo mandamento, tu não matarás, é: A
guerra e todos os atos que inundam a terra de sangue constituem
negações do princípio divino e ao mesmo tempo asquerosas saturnais do
espírito em delírio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Passemos
agora, irmãos meus, a falar do aspecto da enfermidade de Simão.
Eu
me havia ausentado da Betânia, levando comigo alguns de meus discípulos
da Galiléia. Tínhamos que visitar as sinagogas mais próximas de
Jerusalém.
Na
Galiléia, a simplicidade cordial dos habitantes, minha eloqüência
quase sempre improvisada, meus preceitos de moral amplamente
desenvolvidos, com uma familiaridade que não excluía o respeito devido
à palavra de Deus, minhas conversações facilmente concedidas por mim,
o direito que outorgava a todos de observarem meus atos humanos, assim
como de interrogarem minha ciência espiritual, nossas reuniões íntimas,
às quais eu permitia com freqüência a participação de novos
iniciados, com o fim de esclarecer o povo com testemunhos
insuspeitos de devoção anterior à minha pessoa, e, finalmente, no
teatro estreito de minha atuação de apóstolo, tudo tinha contribuído
para manter a persuasão de minha autoridade divina. Mas em Jerusalém e
em seus arredores o pobre Galileu havia de ser contraditado a cada
instante. As sinagogas tinham de ser-lhe hostis, os fanáticos e os hipócritas
lhe lançariam injúrias e o desprezo, cujo desenlace se apoiaria nestas
palavras:
“É melhor que um homem pereça antes do que por ele se
abale a fé de uma nação.”
Fomos
tão mal recebidos em todos os lugares desde o início de nossas
visitas, que julgamos inútil intentar novas provas nas sinagogas, das
quais constituíamos motivo de escândalo, como dizia o povo religioso,
e nos retiramos, os dois filhos de Salomé, Mateus, Tomé, meu tio Tiago
e eu, para a cidade de Efrom. Permanecemos
ali duas semanas e, enquanto gozávamos do repouso na intimidade,
tivemos a satisfação de aumentar o número de nossos fiéis. De uma
parte e da outra nós dirigimos as mais ternas despedidas, unidas às
mais doces promessas de nos tornarmos a ver. Somente eu sabia que não
voltaria. Minha hora se aproximava.
A este respeito, irmãos meus, é necessário fazer ressaltar a
lucidez da alma, a penetração do espírito. Nunca deveis atribuir a causas sobrenaturais as faltas que são o fruto de vossa incúria, as
faltas cometidas por vosso livre arbítrio, os acontecimentos derivados
de uma ação da vontade, de um acordo ou confusão de idéias, de um
capricho furioso ou de um estado de sonolência. Nosso destino, é
certo, apóia-se no passado, mas é também incontestável que ele
melhora ou se agrava devido às honras ou às vergonhas do espírito e
que estas honras e estas vergonhas preparam o porvir. Minha morte
voluntária cerraria minha obra, porém nada me obrigaria a uma morte
voluntária. Eu era entretanto um Messias destinado a sofrer pelos
homens e também a morrer por eles, posto que na época que eu vim à
Terra como Messias, os homens conduziam à morte a seus Messias. Porém,
repito, eu podia fugir, e se minha hora estava próxima era porque,
querendo elevar-me pelo martírio, via que não era possível alongar a
luta.
Judas atraiçoou-me, não porque estivesse fatalmente predestinado
para semelhante ato, dependente do meu ato pessoal, senão porque, seu
caráter ciumento o impelia à vingança. Se eu tivesse evitado o
suplício, Judas teria encontrado outro meio para demonstrar seu
ressentimento.
Suponhamos que os homens são menos cruéis agora que
quando eu vim à Terra como Messias, do que deverão resultar algumas
modificações nos sofrimentos preparatórios da morte e nos da própria
morte. Por que os Messias estão destinados a grandes sofrimentos nos
mundos inferiores? Porque os Messias trazem verdades e nos mundos
dominados pelas tradições da ignorância não podem ser aceitas as
verdades senão à força de trabalhos, de humilhações, de lutas
heróicas e de longa desesperação, até à morte, quaisquer que sejam
as peripécias desta morte.
Regressei a Betânia contente por encontrar
ali os que eu havia deixado e evoquei as felizes disposições de todos
para festejarem meu regresso.
Chegamos à tarde e não obstante a
primorosa acolhida de meus discípulos, o abraço efusivo de minha mãe,
a emoção das outras mulheres, apercebi-me de um mal-estar geral.
"Mas Simão, exclamei, onde está Simão?" - Marta, inundada
de lágrimas, saiu de um aposento contíguo ao que ocupávamos.
"Vem, disse ela, pelo menos ele morrerá tranqüilo, visto que te chama."
Maria, minha pobre pequena Maria, atirou-se
aos meus braços gritando: "Salva-o, Jesus, salva-o!"
Arredei
Marta e Maria e entrei no quarto de Simão. Meu amigo era presa de uma
febre ardente, porém tranqüilizei imediatamente a todos tornando-me
responsável pelo seu restabelecimento. Coloquei-me a seu lado,
permanecendo assim durante algumas horas (2) e fiz-me senhor desse
delírio, que não anunciava nenhuma lesão mortal. Qualquer outro,
conhecedor como eu das ciências médicas, teria obtido o mesmo
resultado.
Seis dias depois Simão encontrava-se convalescente e a
eficácia de minha cura foi reconhecida com o mesmo entusiasmo que
sempre dava a meus atos mais singelos, uma transcendência funesta para
minha segurança presente e para minha dignidade de espírito perante a
posteridade.
Para celebrar o restabelecimento de Simão, Marta teve a
idéia de dar um banquete no qual deviam honrar-me, a mim especialmente,
e para dissimular a meus olhos o que havia de ofensivo em tal ato para
meus princípios, Marta recordou-me um costume ao qual tínhamos deixado
de submeter-nos à minha chegada, devido à tristeza que reinava na
casa.
Este costume designava o visitante como a um amigo esperado desde
muito tempo antes; estavam prescritas demonstrações a que não podia
subtrair-se o hóspede, sob pena de desmerecer no conceito do amigo que
lhe conferia a hospitalidade.
Éramos muitos neste banquete. Tomaram
parte nele vários parentes, alguns notáveis da povoação, todos os
meus discípulos da Galiléia, Marcos, José de Arimatéia, minha mãe,
Salomé, Verônica, muitas amigas e companheiras de Marta, formando
enfim um total de trinta e nove pessoas. Marta, que devia completar o
número quarenta, preferiu, segundo seus desejos ao terminar os
preparativos, a honra de servir-me, conjuntamente com Maria de Magdala,
Joana, Débora e Fatmé.
Maria, irmã de Simão, permanecia quase constantemente detrás dele,
o qual estava sentado à minha frente, no centro da mesa. Sua intenção
bem decidida era a de contemplar meu semblante, de surpreender meus mais
insignificantes gestos, de saborear minhas palavras, estudando todas as
graduações de minhas impressões, de abandonar-se finalmente a esse
instinto indagador da alma, que despreza as formas exteriores para
insinuar o pensamento no pensamento e concentrar o desejo no ideal.
A
conversação devia naturalmente girar em torno do motivo da reunião.
Meus conhecimentos espirituais, minha dependência divina, exaltaram as
imaginações e me vi obrigado a explicar a origem de minha força
moral, da maneira de lutar contra a efervescência popular que pretendia
descobrir o dom de milagre onde apenas existia a harmonia das qualidades
sensitivas da alma com fácil penetração do espírito.
Para melhor
convencer a meus ouvintes, passei em revista minha vida de apóstolo e
dei a cada um de meus atos, tidos por sobrenaturais, o justo valor que
lhes correspondia dentro de minhas afirmações. Demonstrei-me como o
Messias preparado para sua missão com sólidos estudos sobre o poder
dos elementos, sobre a propriedade das plantas, a fraqueza do espírito
humano e o império da vontade. Fiz depender todas as minhas alianças
espirituais de uma mesma fonte: a longa vida do espírito, e todas
minhas manifestações ostensivas do encadeamento prático e sábio das
causas e dos efeitos.
Deduzi da ciência humana os caracteres ostensivos
de meus meios curativos e da ciência divina, a felicidade de minha
alma, a qual arrojava seus reflexos sobre as almas oprimidas e os
espíritos enfermos. Estabeleci finalmente a grandeza de minha fé, a
imensidade de minhas esperanças com tão vivas imagens e com tais
ímpetos de entusiasmo, que Simão, apresentando-me uma taça cheia,
suplicou-me que molhasse nela meus lábios, a fim de misturar o sopro
divino com o sopro mortal, e de confundir o salvador com ele, o humilde
ressuscitado, honra que ele pedia, graça que receberia com ardente fé,
com o amor inextinguível que lhe inspirava o filho de Deus.
Nesse
momento e depois de haver contentado a Simão, ouvi como um soluço a
meu lado. Voltei-me e vi Maria. Ela se havia separado de seu irmão para acercar-se de quem havia sido
chamado salvador; sua gratidão, seu culto se traduziam em acentos
entrecortados, em espasmos da voz, e seu espírito sobreexcitado por
minhas demonstrações, vinha implorar o apoio de minha força contra a
violência de suas ilusões. Tomei a menina em meus braços, sua cabeça
inclinou-se e seus cabelos soltos formaram uma moldura de ébano a seu
rosto inanimado. Todos os olhares ficaram fixos e os peitos ansiosos, à
espera do desenlace de tal crise, cujo termo se anunciou com algumas
lagrimas e um fraco rubor da pele. Maria despertou como de um sono, sem
compreender a emoção de que havia sido causa, e também com um
sentimento de felicidade. Expliquei a Simão a extremada sensibilidade
da irmã e indiquei-lhes, com insistência, que não deviam jamais
contrariá-la bruscamente em suas excentricidades, a essa alma tão
exuberantemente dotada, a esse espírito tão despoticamente governado
pela alma.
Apenas tornada a si, Maria desapareceu. Encontrava-me, por
conseguinte, em boas condições para falar de um acidente que me
sugeriu numerosas observações sobre as naturezas corporais dominadas
por visões demasiado fortes da alma e por ambições demasiado fortes
do espírito. Em seguida deixei-me transportar, como sempre, por minha
volúvel fantasia, falando com frases sentenciosas e proféticas, em
evocações de meu espírito para o Ser Supremo.
Havíamos chegado ao
final do banquete e ninguém já comia, nem bebia, senão que todos
tinham ficado suspensos de minhas palavras.
Elevei-me vagarosamente para
o absoluto de meus ideais referentes às alianças dos mundos e dos
espíritos. Pouco a pouco senti-me como que separado dos que
fraternizavam comigo nesse banquete, vendo-me rodeado dos homens do
porvir, e apresentou-se-me através do suceder dos séculos minha
emancipação desta terra. Depois, atraído pelo sentimento da
atualidade, falei de minha morte, rodeando-a de todas as seduções da
glória imortal. Anunciei-lhes que quase todos me abandonariam,
prometi-lhes que os honraria em seus esforços ou os consolaria em seus
arrependimentos que os dirigiria para a luz com o auxílio dos dons do
espírito para com o espírito e que os elevaria com a persistência de
meu amor.
João, como sempre, encontrava-se à minha esquerda e esforçava-se
nesse momento por conhecer aos que eu havia querido aludir ao falar de
abandono. A este desejo, manifestado em uma forma de pergunta, respondi
que a presciência a respeito dos sucessos se torna fácil por meio do
esforço do espírito no estudo dos homens e das cousas.
"Muitos me abandonarão, acrescentei, porque muitos são fracos
e medrosos.
"Alguns me renegarão, outros me atraiçoarão, talvez
para iludir a responsabilidade ou para satisfazer seu fastio.
"Os
homens não acreditam suficientemente na minha força de Messias e a
proximidade do perigo os separará de junto de mim.
"Porém, depois
de minha morte, os homens de quem falo compreenderão a covardia de sua
conduta e meu espírito se lhes aproximará novamente para continuar a
obra que fundei."
Irmãos meus, eu não assinalei de um modo mais preciso aos que me
haviam de abandonar, renegar-me, atraiçoar-me. A razão vô-la dou com
minha resposta a esse discípulo tão audaz em seu fanatismo, como
exagerado em seus testemunhos de amor. A luz que brilha da ciência
espiritual é a guardiã das forças humanas para perseverar nas
atividades da alma e no heroísmo do espírito, mas não poderia
determinar uma violação da lei que quer que a matéria seja um
obstáculo para a visão completa da alma e do espírito. Eu gozava
deliciosamente com as honras que me prodigalizavam e, quando Marta
derramou água perfumada sobre minhas mãos e que sua jovem irmã me
borrifou a cabeça e as roupas, demonstrei-me feliz ao contemplar a
felicidade que elas experimentavam. A tarde terminou no meio de uma
alegria expansiva, que nada veio turbar.
Irmãos meus, no capítulo
treze deste livro passaremos em revista as causas do ódio dos
sacerdotes e de minha condenação. Depois continuaremos a exposição
dos fatos que precederam a minha morte.
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1 - Refere-se naturalmente à doutrina das reencarnações, única
que pode explicar o encadeamento dos fatos, dando explicação da maior
parte deles, que de outro modo resultariam como as páginas espalhadas
de um livro, que, separadamente, nada significam. Assim, como se
explicam os ódios ou simpatias inatas que se manifestam entre duas
pessoas que se vêem pela primeira vez? Por que em uma mesma família, a
despeito da lei hereditária e apesar de igualdade do meio e da educação, uns
filhos saem perversos, outros virtuosíssimos; uns intelectualmente
deficientes, outros chegam a ser gênios, etc.? Só a doutrina das
reencarnações explica estas diferenças. Nota do Sr. Rebaudi.
(2) - Este processo eu o tenho empregado e emprego, com êxito, a
miúdo. Todos podem igualmente empregá-lo, com a ajuda de um benévolo
e intenso desejo de beneficiar o enfermo. Isto não quer dizer que
sempre se obterá a cura nem que nossa ação possa ser comparável à
do Mestre, porém, bem sempre produz. Nota do Sr. Rebaudi.
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FIM
DO CAPÍTULO 12