Duas
correntes de opinião se formaram desde o princípio para com a minha
pessoa: a dos que me exaltavam e a dos que me combatiam. Pouco a pouco,
o círculo dos que me conheciam e escutavam minha palavra, ia
aumentando. Com isto aumentavam as simpatias e a consideração, por um
lado; os ciúmes, a inveja e a murmuração, por outro.
Minha
obra era santa, pois era a obra do Pai, era de amor e não de ódios;
podiam talvez os dominadores da Judéia duvidar de meus propósitos, que
algumas vezes chegaram a ter as aparências de um nacionalismo perigoso
para o dominador estrangeiro.
Mas,
na realidade, minha alma era completamente alheia a todo o espírito de
violência, a toda a idéia de revolta armada. Minha idéia comportava
um propósito, esse propósito era o bem e a finalidade era o Pai, fonte
de todo o bem, aspiração suprema do verdadeiro espírito de verdade,
não Espírito de Verdade, como pretenderam personificá-lo depois; e
ainda quando a princípio, levado pelo espírito ardente do meu
sentimentalismo avassalador, comprometi os elevados propósitos de minha
missão com manifestações abertamente hostis para com os opressores do
povo, que gemia e clamava a Deus por justiça, foi sempre o amor o
móvel de minhas palavras e jamais houve, detrás delas, idéias de
sangue e de represálias.
Compreendiam
meus verdadeiros propósitos os que me seguiam?
Sim,
com certeza, pois eram desprotegidos do poder e da fortuna, gente
simples, que via fechadas na Terra todas as vias de suas aspirações e
que se precipitavam ansiosos para os esplendores do porvir, cujas
portas, em nome do Pai, eu lhes abria de par em par. Mas, se
compreendiam meus propósitos, longe estavam da elevação requerida por
eles, porquanto a ambição do bem, mais que o próprio bem, inspirava
seus propósitos de seguirem-me, pois que buscavam grandeza antes para
si mesmos que para os fins que o Pai me enviara a propiciar sobre a
Terra; buscavam para si o que deviam buscar para os outros; suas
aspirações eram grandes, porém essa grandeza não comportava a idéia
do Pai, senão a dos homens, e levava em si os germes de sua própria
destruição, disto foi prova a desgraçada traição de meu querido
Judas. A traição de Judas filha foi dos ciúmes como já vos
disse, de nenhum modo do amor ao dinheiro; esses ciúmes vieram
comprovar os germes de destruição que vos digo e que já outras vezes
se demonstraram, dando motivos a pequenas dissensões que chegaram a
dividir entre si, ainda que por pouco tempo, a meus amantíssimos
discípulos.
A
compreensão, pois, dos que me ouviam e seguiam, pouco se elevava do
nível geral do sentimento dos homens da época, e é assim que o
espírito de minha doutrina melhor frutificou depois de minha morte,
com a qual, com já vos disse, começou verdadeiramente o mais
importante de minha obra, tanto pela influência que ela exerceu, quanto
pela luz que derramou sobre meu espírito e sobre os meus discípulos,
que outros se sentiram desde esse momento. Filhos meus, irmãos meus,
admiremos e adoremos os desígnios de Deus, que de tudo e a todos os
momentos fazem brotar o bem e o amor, a harmonia e a luz, ainda quando
tudo parece desfalecer e até a morte põe seu selo, aterrador para
vossos olhos, como que cortando toda a esperança e matando toda a fé;
é então, quando tudo rejuvenesce e se renova no Pai e pelo Pai,
que é, finalmente, o princípio e o termo de todas as cousas.
Nada
morre, irmãos meus, tudo ressurge dentre as mesmas aparências da
morte, para a confirmação mais acabada da vida e de seu
aperfeiçoamento por sua aproximação paulatina para Deus. Para
Deus, pois, elevem-se constantemente vossos pensamentos e seja a
oração, em todos os momentos, o laço que a Ele vos una;
mas deve ser a oração tal como já vos disse: o que ama, já
amando ora e o que ama
sabe antes que tudo enxugar as lágrimas
dos seres amados; estes são vossos
irmãos, os homens todos, todos os espíritos do Universo
(1).
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(1)
- Este elevado conceito da oração, estão longe de compreendê-lo
tanto os rezadores de ofício como os que combatem a oração com o
ridículo argumento de ser ela inútil, porque o que há de ser —
dizem como os fatalistas turcos — há de ser, não valerão rogos e
mais rogos para desviar a rota dos acontecimentos. Não compreendem
estes senhores que a verdadeira oração é uma força poderosa, que por
si mesma pode determinar os fatos mais assombrosos. Eis, pois, que tais
pessoas não compreendem o espírito do cristianismo. Eles são os
mesmos que confundem a caridade com a esmola e a humildade com o
servilismo. Para poder distribuir esmolas basta ter dinheiro, para ter
caridade é preciso ser espírito evolucionado. Ninguém foi tão pobre
como Jesus e ninguém fez tanta caridade como Jesus. —
Nota
do Sr. Rebaudi.
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FIM
DO CAPÍTULO 18