Já vos disse, irmãos meus, que, pois que Deus consentiu em enviar
seu filho para a salvação do homem, caído tão abaixo de sua pureza
primitiva, devido à sua falta de progresso, ele não pode deixar sem
cumprimento seu propósito. Assim, pois, truncados pela morte do corpo
esses divinos propósitos, só podiam ser cumpridos no momento, pois
não podia a vontade do Pai estar sujeita à dos verdugos de seu enviado
senão enquanto a obra deles pudesse servir de instrumento eficaz,
embora cego, para o cumprimento da vontade divina, (1) que nunca pode
deixar de ser cumprida. Cumpre-se, pois, novamente agora repito-vos, a
obra do Pai, aparentemente interrompida por minha ausência material de
entre vós e comporta especialmente dito cumprimento em estabelecer a
verdade, tal qual ela foi dita. Se certamente a palavra que recolhestes
de minha anterior predicação, cheia era de ambigüidades para vossos
entendimentos tão atrasados então, e de contradições aparentes com
relação ao que agora vos digo, preciso é que compreendais que a
verdade há de buscar-se na essência do ensinamento e não em sua
forma, posto que esta há de ser da que se aproveite o meio em que se
fala e o ambiente em que o ensinamento se produz. É, portanto, no que
à palavra se refere, dando a entender sobre as chamas eternas, sobre as
potestades infernais e outras cousas que foram ditas, que se deve
compreender a necessidade, para o Mensageiro, de falar a língua dos que
suas mensagens haviam de receber e preciso lhe era também ainda vestir
seus ensinamentos com a roupagem das idéias imperantes. Se outro
houvesse sido o modo de minhas palavras, ninguém as teria escutado e
estéril teria resultado a vinda do Messias, o que não podia acontecer
pelo que já vos disse com relação ao necessário cumprimento dos
desígnios de Deus. Assim, pois, tudo aconteceu como devia acontecer.
Assim também acontece, hoje, que minha palavra não é acreditada, como
já antes disse: Mas quando vier o Filho de Deus, pensais que
encontrará fé na Terra? Esses também, os que se dizem mestres de
minhas palavras e os que se julgam o porta-voz de meus ensinamentos,
vão mal, porque lhes falta a fé, que só é dada aos humildes de
coração, aos que sofrem perseguição pela justiça, aos que
resignados choram e aos que padecem sede e fome de verdade e de amor.
Onde estão vossas aflições pelo bem? - Onde estão vossos grandes
sofrimentos pela verdade? - Onde vossos sacrifícios para que frutifique
em vossa mísera morada a semente que semeei e que hoje volto a regar
com lágrimas ardentes, por vossa pertinaz cegueira?
Recordai o que
antes vos falei do homem que tinha uma figueira em sua vinha, foi buscar
seu fruto e não o achou. E disse ao que lavrara a vinha: Olha, três
anos há que venho buscar fruto nesta figueira, e não o encontro;
corta-a pois; para que há de ocupar ainda a Terra?
Venho pois agora
buscar o fruto da figueira que plantei na vinha do Senhor, e não o
encontro. Esperais que a figueira seja cortada pela raiz e lançada ao
fogo?
Oh! irmãos meus, crede de uma vez na palavra que novamente vos
trago, para recordar-vos o nenhum valor das cousas humanas, o enganoso
de toda a felicidade que não seja do espírito, a falsidade de toda a
aspiração posta nas cousas passageiras da vida e o vazio de toda a
esperança que não veja mais além do corpo.
Muitas cousas vos poderia
dizer, mas, de que vos valeriam se cegos vos obstinais em permanecer,
com a alma acorrentada aos torpes apetites do corpo? - De que vos
serviria que vos mostrasse melhor luz, se vós teimais em manter
fechados vossos olhos?
Não acreditais muitos de vós que sou eu quem
vos fala, e nem mesmo vendo-me o acreditaríeis e tampouco o
acreditaríeis se novamente crucificados vos exibissem meus pobres
despojos; porém, isto é porque fechados conservais os olhos de vossa
fé, fechadas as portas da humildade, fechados os caminhos de vosso
coração!
Oh! - Quão distante vos encontrais de onde deveríeis
encontrar-vos! - Por isso muda é minha palavra para vós, sem calor meu
sentimento, sem eco a voz de meu constante chamado.
Sede sábios, porque
de Deus vem também a ciência. Mas não olvideis que toda a sabedoria e
toda a grandeza nada são sem a fé, sem a humildade e sem a caridade.
Pedi, pois, a Deus sobre todas as cousas, estas três:
fé, humildade e caridade.
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(1) - Efetivamente, foram os verdugos de Jesus quem, com o martírio do
Gólgota, engrandeceram e imortalizaram a obra do Nazareno, contribuindo
involuntariamente para que a vontade do Pai se cumprisse. - Nota do Sr.
Rebaudi.
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FIM
DO CAPÍTULO 20