Tem-se dito que o cumprimento das profecias só o é em aparência;
pela convenção que se fez dos fatos com elas. Assim também tem-se
dito que somente a credulidade em Jesus concebeu o cumprimento das
profecias e o acontecido com Jesus.
Mas eu digo-vos que, ainda que as
profecias não tivessem existido, o humilde carpinteiro de Nazareth
destinado por Deus era para a obra da redenção dos homens, para
colocá-los no conhecimento do que lhes era preciso fazer para corrigir
o passado de erros e de opróbrios que deixaram atrás de si, e para
espalhar luz no caminho de seu porvir.
Mas eu digo-vos que as potestades
do céu, obedientes aos mandatos daquele que tudo é e tudo pode,
estreitas alianças de elevados seres haviam constituído em redor do
Divino Mensageiro, para facilitar a grandiosa obra que se lhe
encomendara e que vós ainda não compreendeis.
Mas eu digo-vos que tudo
quanto há de acontecer, designado com antecipação se descobre no
ambiente espiritual, podendo portanto discerni-lo todo o espírito de
alguma penetração, ainda que não seja espírito do Senhor, senão
espírito das trevas.
Não é portanto a profecia o que chamar se possa
um milagre, o qual não existe, senão previsão do que há de
acontecer, porquanto designada está já muito antes sua época para
todo o acontecimento.
Em minhas visões muitas cousas chegaram
certamente ao meu conhecimento que somente haviam de ter lugar no
porvir. Assim também acompanhava-me especial dom para o conhecimento
dos homens, o qual me serviu para a escolha de meus apóstolos, entre os
quais, se certo é que um traidor houve, mais foi ele vítima de
circunstâncias, que não soube vencer, que de natural disposição à
falsidade e à maldade.
Assim, bem foram escolhidos os que em minha obra
santa me deviam acompanhar. Eles foram propriamente os eleitos
porquanto, como já vos disse, uma só família com Jesus formaram.
Naqueles dias em que completado havia o número de meus apóstolos e cheios de projetos nos encontrávamos, ao fazer eu,
na noite em que chegara e no meio das expansões da conversação, um
estudo ligeiro das condições particulares de cada um deles,
pus o nome
de Pedro a Cefas e alguém chamou-me a mim
RABI, que quer dizer
Mestre,
e desde então as duas denominações prevaleceram. Assim,
muitas vezes
chamavam-me RABI, mas a Cefas depois sempre lhe chamaram
Pedro.
Os
habitantes de Nazareth, que, por conhecerem meus pais e meus irmãos,
escarneciam de minha filiação
divina,
alcunhavam-me o Filho do Homem,
sendo nisso acompanhados por meus próprios irmãos,
que em certa
ocasião chegaram até a intentar fazerem-me passar por louco com o
auxílio também de minha própria mãe.
Assim disse então com energia
Jesus:
Se certamente ninguém é tido como profeta em sua terra,
tampouco faz Deus dádiva de suas graças aos que desconhecem sua luz,
ainda que possam discerni-la, e que, enganando-se a si mesmos, surdos e
cegos permaneceram ao lado do Messias para não ouvi-lo nem vê-lo,
dando demonstração de ignorar o seu elevado ministério; mas do mesmo
modo, por não ouvidos, nem vistos e ignorados portanto, lhes aconteceu
de passar, quando chegou o tempo da colheita nas sementeiras do Senhor e
mal ainda por muito tempo lhes haveria acontecido, se não fora pela
ajuda do mesmo labrego a quem desconheceram. O afeto e a dor, nas horas
derradeiras, em que de coração verdadeiramente me acompanharam em meus
terríveis sofrimentos e até a sinceridade com que afinal a doutrina
também foi por eles acolhida e a celeste missão reconhecida, muito
remediou do isolamento moral
que a princípio me fizeram sofrer os que,
pela carne, de minha família eram; mas na balança da divina justiça
nada passa sem o equilíbrio de seu peso no oposto prato de suas
ações. Certamente na primitiva incredulidade de Maria muito havia do
amor materno que queria ocultar a perigosa realidade a seus próprios
olhos e desviar-me da rota em que me via colocado. Mas quando a luz, que
do alto para os mortais baixa, principalmente veio iluminá-la, ela com
sublime resignação aceitou tudo o que o amor de mãe lhe fazia
descobrir como perigos e sofrimentos que por seu filho adorado devia
passar.
Desde muito antes, deixando de lado suas primitivas
prevenções, confundido se havia, pelo sentimento, na própria obra
do filho, participando afinal de todas as amargas vicissitudes até o
desenlace, horrivelmente doloroso, da grandiosa obra da redenção
humana.
Por fim,
de meus irmãos partiu ainda a idéia de fazerem- me
passar por louco,
mas não já com o propósito de
escárnio,
mas com o
afetuoso desejo de minha salvação, e com tal objetivo desesperados
esforços fizeram em meu favor,
prejudicando talvez, ainda que
involuntariamente, a missão de Jesus.
Mas longe vou com isto aqui,
entretanto é meu propósito, ao trazer-vos minhas novas manifestações
no mundo da carne, executar o propósito formado e comunicado nos
primeiros escritos, propósitos, referentes à doutrina que como Novo
Cristianismo alguém entre vós quis definir, embora o ensinamento seja
o mesmo e mais que Cristianismo novo ou velho é a palavra do Pai.
Assim, pois, dando como conhecido de vós o que à existência de Deus e
da alma se refere, cousa que onde Jesus mora são mais verdadeiras ainda
que para vossos olhos a luz, passarei a ensinar-vos o que é a doutrina
e o que o porvir encerra para vossas almas, quando tenham deixado,
transitoriamente primeiro e definitivamente depois, a habitação
terrestre, dando lugar ao dito que
muitas moradas tem a casa de meu Pai,
que
Deus não quer a morte do pecador, senão que viva e se
arrependa,
porque...
no fim, todos serão salvos; como também o do cego de
nascimento, e o da vinda de Elias, e muitíssimas outras cousas mais,
que foram ditas, porém não recordadas e outras muitas mais ainda que
para trazer-vos venho.
Apesar de muito me ajudarem meus apóstolos no
ensinamento e divulgação do que lhos encomendara, sua obra era
deficiente porquanto, como já vos disse,
longe se encontravam da
elevação de alma e da inteligência precisa
e mais longe ainda
encontrava-se seu auditório. A vontade, porém, jamais eles a tiveram
de menos, o que principalmente demonstraram ainda depois de minha morte.
Mas a obra da redenção humana a eles não foi encomendada e sim ao
Messias, que à sua frente há de encontrar-se ainda durante muitos
séculos. Com muitos defeitos, portanto, transmitida vos foi a palavra
de Jesus. Mal compreendida, malconservada, pois que de simples memória
foi durante muito tempo e mal transmitida, somente suas cinzas até
vós chegaram. Volvê-las ao que foram é agora obra essencial para
vosso Messias, dando-lhes ao mesmo tempo o engrandecimento que pede a
maior elevação dos homens nas vias do progresso.
Meus apóstolos, tão
pobres de instrução como ricos de fé, muito fizeram certamente na
sementeira que lhes encarregara em nome do Pai, mas não podiam oferecer
de si o que não tinham, isto é, a sabedoria, que acrescentada à fé e
aos sentimentos de amor que o Filho de Deus lhes inspirava com sua
palavra e com seu exemplo, muita grandeza teriam dado à predicação
das doutrinas que reveladas eram à Humanidade por sua mediação.
Portanto, entre a gente simples e sem instrução somente sua palavra
era escutada e pouco brilho se levantava em volta do chefe da nova
missão que lhes era trazida para sua salvação e sucedia que os homens
de instrução e os que escreviam, ignorantes permaneciam da nova
palavra, nada ficando assim dela escrito com prejuízo do que foi dito
de quem o disse, porquanto chegou tempo que fora da tradição nada
ficou com a autenticidade das cousas ditas e ouvidas por de quem ditas e
ouvidas foram.
Certamente o que verdade é, imperecível também é por
toda a eternidade. Portanto, a verdade sempre seu caminho veio
percorrendo, muito ganhando em seu progresso com a morte do Messias,
como já vos disse, porquanto meus apóstolos se centuplicaram pela
grandeza de sua fé e pelo grande auxílio espiritual que receberam sob
a direção daquele que a eles mesmos em vida os dirigira e do céu
depois, com mais luz e maiores alianças o continuara fazendo.
___________________________
FIM
DO CAPÍTULO 26