V I D A   DE   J E S U S

Ditada por Ele Mesmo

SEGUNDA PARTE

CAPÍTULO 27

Assim como o amor eleva o homem, o orgulho o envilece e tira- lhe o discernimento para apreciar a verdade. Com ele anda sempre unido o egoísmo, que é o mau conselheiro. - Verdadeiro significado da "Torre de Babel".

Se é certo que toda a doutrina, todas as leis e os profetas, concretizados estão nas palavras "ama a Deus sobre todas as cousas e a teu próximo conto a ti mesmo", não menos certo é que nada de bom poderá buscar-se que do amor não reconheça dependência. Só o mal ou o interesse hão de estar fora do amor. O mal por si só o é, mas o interesse filho é do egoísmo. Assim também as obras que somente pelo interesse se praticam não elevam o homem e não outro galardão, mais que suas próprias conseqüências, hão de recolher, no entanto gelam a alma pelo frio do egoísmo que as inspirou. 

Somente pois as obras pelo amor ditadas enaltecem a alma e dão-lhe grandeza, abrindo-lhes as portas que à perfeição conduzem, isto é, até o Pai. 

A perfeição no amor, porque é infinita, somente no Pai é compreendida, não outra cousa sendo a criação mais que o reflexo de seu amor. 

O amor humano cheio de erros é, pois, enquanto que deseja o bem da pessoa amada, mal entretanto lhe ocasiona muitas vezes, e é porque ainda não chegou ao justo discernimento do certo e do incerto, do bom e do mau. Contudo, também o simples desejo sincero do bem, o movimento de afeto que espontaneamente move o homem para outro homem para servi-lo em seu interesse e sem interesse por parte de quem o pratica, já muito caminho andado significa nas vias que para o Pai, isto é, para a perfeição conduzem. E se esse sentimento ainda e do mesmo modo sentis para os que bem e para os que mal procedido hajam para convosco, então mais, muito mais avançados nessas vias vos encontrais. 

Oh, irmãos meus! - Quanta luz ao espírito traz o obrar assim! Quanto o próprio engrandecimento da inteligência com isto ganha! De quanto o caminho para a perfeição assim se abrevia! 

Já vos disse, amigos meus, que a nova vinda de Jesus pela razão de sua aliança com os homens cujos cérebros poderiam servir-lhe de meio e como instrumento de interpretação de suas idéias na linguagem terrestre, teria de resultar mais explícita em suas manifestações, mais clara e mais humana em sua forma, não pela mudança de Jesus, senão pela mudança dos homens mais dados agora à observação na matéria e aos trabalhos que relacionam o cérebro com o movimento da vida orgânica, que à contemplação da natureza e à elevação do espírito pelas idéias religiosas. Ao mesmo tempo muito mais adiantamento há no presente entre vós e muitas grandes cousas encontrais em grau de conseguir. Portanto, tudo o que há de dar engrandecimento à pessoa do homem é útil, somente que nada há de separar-se da idéia de Deus se o que chamais progresso tal é realmente. A verdade à verdade conduz, o progresso a progresso maior arrasta; toda a verdade, portanto, e todo o progresso que apouquem a idéia de Deus, nem verdade nem progresso são, senão mentira e retrocesso de ouropel ataviados, como para simular as aparências do bom e do verdadeiro. Acontece também muitas vezes que a verdade mal compreendida, contra a verdade a luta é arremessada, e assim somente se compreende que muitos homens no caminho da ilustração, tenham seguido para a descrença em lugar de elevarem-se para a fé, que de Deus vem. Igualmente o orgulho e a vaidade envolvem o espírito com as trevas da alma e o tornam incapaz do justo equilíbrio da razão e do sentimento, porquanto, se a verdade dos fatos descobrem, as harmonias de suas relações não percebem e cegos também permanecem com relação à luz de suas finalidades. 

Mau companheiro o orgulho é; egoísmo em si sempre traz porque é de sua origem e ambos são pecados; um, venda para a luz do espírito e o outro, tropeços em sua marcha, cego e torpe, entravam o progresso. Aquele que verdadeiramente ama, livre se vê destas misérias. 

Sede portanto humildes de coração, sede mansos e ao mesmo tempo generosos com os que mal vos querem, devolvendo sempre bem por mal. 

Jamais pode o homem ser inimigo do homem, é somente o atraso o que impele um contra o outro. Se esse atraso não houvesse, conhecimento teríeis, não de palavras mas de entendimentos e de sentimento, pois que, entre quem faz o bem e quem o recebe maiores benefícios colhe o primeiro que o segundo. Mais que virtude, pois, conveniência é fazer o bem. Praticar o bem, semear é em proveito de quem o praticou. Quem mal faz mal recebe, porque semente de má sementeira e jamais a semente do mau fruto deu o bem. - Oh, irmãos meus! Quão feliz me sentiria se tão-somente compreendido me visse!... As palavras compreendeis, mas não penetra sua essência nas profundidades de vossas almas.

Vossa falta de compreensão é em grande parte devida a que julgais das cousas em relação sempre com a vida terrestre, esquecendo que nesta não há realidade senão aparências pelo que à pessoa se refere. Já vos disse que a pessoa é a alma e a alma não a vedes nem sequer no meio do que chamais vida e que morte melhor é para o espírito, pois que até sua realidade diminuída fica que até a desconhecê-la chegais e a negá-la, no entanto veste-a um corpo. 

Falo-vos com toda a simplicidade própria da verdade, bem vejo porém que dispostos estais a encontrar exagero em minhas palavras e isto falta é, porquanto não pode Deus, nem em muito nem em pouco, enganar-se nem enganar-vos e de Deus a palavra é, quanto em seu nome seu filho vos traz nesta sua nova manifestação entre os homens. Crede, pois, que: A personalidade é a alma e que o corpo só à alma aparências dá, e ao que chamais forma entre a matéria, sem ser realidade absoluta, também lhe dá. A entidade inteligente, vivendo de sua vida própria, livre do que chamais matéria, manifesta-se com uma envoltura que a circunscreve e que lhe proporciona maneira de perceber e de manifestar-se; porém, corpo não é propriamente; podeis como "corpo astral" designá-lo entretanto, chamando então espírito à alma revestida, e usar da palavra alma quando se fale do princípio inteligente, sentimental e volitivo do homem, o qual não obstante, sob forma de espírito (alma revestida) e não de alma, separa-se no ato impropriamente chamado morte por vós. 

Tudo isto, para dar clareza às idéias que resultam poder abordar assim, com simplicidade, os problemas mais árduos, justamente porque as idéias tanto mais simples são quanto mais próximas da verdade estão. 

Temos chegado portanto à definição das novas doutrinas, isto é, à aclaração do que foi dito, porquanto nada foi dito que certo não seja, mas nada também se disse que o "espírito de verdade" não devesse esclarecer e ampliar mais tarde, sendo que o "espírito de verdade" próprio é de cada época, como próprias são das diferentes idades do homem o que em cada uma delas produz; sem que o homem deixe de ser o que é. 

O "espírito de verdade" chega assim a constituir como se fosse a personificação do que em síntese têm de verdadeiro as doutrinas; trata-se pois das próprias doutrinas depuradas, pelo progresso, de seus erros e imperfeições. Cada século portanto tem seu "espírito de verdade" superior ao do século que o precedeu, mas não diferente; como maior é de ano para ano o homem, sendo sempre o mesmo entretanto. Na expressão "progresso" entender-se deve, pelo que à doutrina se refere, a verdade revelada segundo a elevação do homem em seu adiantamento alcançada. Refere-se propriamente às manifestações do "espírito de verdade", que definitivamente de Deus vem por intermédio de seus Messias, apesar de ignorados muitas vezes. Assim, pois, muitas são as doutrinas verdadeiras, mas elas devem ser passadas pelo tamis do "espírito de verdade", que em cada época, sob diversas formas, se manifesta aos homens por mandamento divino. Profetas, Messias, Anjos, Santos, quando verdadeiros são, de Deus vêm e iluminados pelo "espírito de verdade" falam. Mas a verdade, como quer que seja manifestada e por mais pura que ela seja, desfigurada resulta sempre no meio do ambiente humano, bem depressa aparecendo em todas as partes variedades e até contradições, sendo entretanto uma verdade revelada, e assim tendes e assim tereis por muito tempo ainda o que comparar se podia com a confusão de línguas na Torre de Babel: - A obra que a Humanidade há de levar avante é uma... a obra de seu progresso, isto é: a obra da Torre de Babel; mas em lugar da harmonia dos operários manifesta-se a conhecida confusão e torna-se forçoso abandonar a obra; porém Deus, obrando como tal e não como a Bíblia falsamente vos transmite, manda-lhes um Messias que os ponha em inteligência uns com os outros; a todos, com o fim de que levem a cabo sua torre, a obra do humano progresso, na verdade e no bem (1).

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(1) - O homem faz-se não obstante de desentendido, dando as costas ao único caminho que o Messias lhe apontou como conducente à sua salvação, quando lhe disse: pelo amor será salvo o homem. Afirma-se, entretanto, que os cataclismos sociais são indispensáveis para o progresso humano, quando, pelo contrário, somos nós mesmos os que temos preparado suas causas, procurando cada um de ensinar e de aproveitar-se dos demais. Grandes e pequenos, ricos e pobres, todos procedem com falsidade e cada qual, no posto em que se encontra, busca explorar aos demais em proveito próprio. Se os patrões são tiranos com os trabalhadores, estes, os que chegam a impor-se sobre seus companheiros, são piores tiranos ainda com seus iguais, que os piores patrões. Em nossas democracias muito fácil seria formar bons governos, que chegariam às mais vantajosas reformas sociais, porém o povo, longe de procurar os homens virtuosos para elegê-los, ri-se deles, apontando-os com o dedo como malucos, porque os homens virtuosos amam a justiça e não se poderia obter deles dádivas imerecidas, prebendas injustas, encobrimentos vergonhosos. As palavras verdade e justiça servem muito bem para encabeçar a revolta sanguinária, a base do ódio e vingança, porém não para praticá-las. Não se trata de pobres ou de ricos; a maldade e a mentira estão em todas as partes; somos, pois, todos nós os que construímos as causas dos futuros cataclismos. Se atiramos uma pedra para o alto e permanecemos debaixo é fatal que ela nos parta a cabeça, e assim também são fatais os cataclismos sociais, cujas causas foram preparadas por nós mesmos. Assim também, com umalegislação, os homens bons saberiam viver em paz e felizes, ao passo que com a mais perfeita legislação, os homens maus viverão em perpétuo motim. O que primeiro havia que reformar não são as leis, senão os homens, porém isto é precisamente o que se não quer. Contudo, o homem melhora paulatinamente e quando as hostes do mal acendem a fogueira dos ódios e das paixões sanguinárias, arrasando tudo a ferro e fogo, não faltam espíritos do bem que  façam ressurgir, do meio mesmo da horrível hecatombe, os resplendores da verdade e o doce aroma da paz e do amor.Nota do Sr. Rebaudi

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FIM DO CAPÍTULO 27

SÓ O AMOR PODERÁ SALVAR O HOMEM!

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