A minha palavra não pode acrescentar a menor importância a esta
obra, pois ninguém ignora que fui elemento completamente negativo para
a missão de meu filho Jesus.
Cedo, entretanto, ao pedido do médium e
direi o que possa ser de interesse com referência ao assunto.
Na
realidade, era tão pobre a educação da mulher hebréia que
dificilmente se teria podido encontrar alguma, capaz de avaliar o
significado do que o pretenso profeta, como eu o chamava, manifestava
com suas palavras, com sua ação e com seu exemplo. Entre os homens,
tampouco havia-os verdadeiramente preparados para compreendê-lo. Eu
pensava que meu filho estava louco e todos os da família acabaram por
pensar do mesmo modo. Sobre isto, pois, mal posso dizer algo de útil e
falarei de preferência do que mais tarde observei em torno da atuação
de meu filho.
O martírio e a morte de Jesus, a fé ardente dos
apóstolos e a influência de João, iluminaram meu espírito,
convertendo-se na minha mente transformada, a vítima inocente em um
Semi-Deus, e não coube já em meu espírito a menor dúvida a respeito
de tão grandiosa manifestação do amor do Pai sobre seus filhos, os
homens todos da criação; isto, porém, se bem significava grandes
realidades para minha pobre alma tão cheia de escuridão mental, fora
de mim mesma, não podia representar um grande progresso porque na
Natureza não se dão saltos, senão que tudo se encadeia logicamente; a
luz que se fez assim, então, na minha alma, brilhou no fundo de minha
consciência, servindo-me de guia em todas as minhas idas terrestres. O
grandioso mito que se fez de Maria entre os Cristãos mais tarde, nada, absolutamente nada tem de real.
Fui
sempre mulher, menos em uma ocasião, que me ensaiei no sexo masculino;
foi a vez que mais comodamente passei, porém que me resultou de pouco
progresso para o meu desenvolvimento espiritual. Eu sentia-me sempre
inclinada a ser mulher e distingui-me quase sempre por minhas
inclinações religiosas, sendo que também fui monja, chegando a ocupar
uma invejável posição nesse meio, havendo eu cultivado um pouco minha
inteligência, o quanto então era possível a uma mulher religiosa.
Em
verdade, recentemente, na minha última estada na Terra, na qual de
muitos dos hebreus fui reconhecida, pois poucos anos faz que novamente
regressei ao mundo dos espíritos, então adquiriu verdadeiro
desenvolvimento a minha inteligência, completamente livre já de todos
esses prejuízos causados pelo fanatismo religioso que constitui um
obstáculo quase invencível para o progresso humano. Certamente que de
amigos, recebi constantemente, dentro de uma boa direção, uma
proteção invisível à qual correspondia até onde era possível, aos
planos formados de antemão no espaço. Nunca cessou o labor cristão,
sempre do alto, pelo próprio Mártir do Gólgota que aí selara com seu
sangue os sublimes ensinamentos ensinados já por ele, com a palavra e o
exemplo.
Sem dúvida, seguidos foram os obstáculos com que o magno
labor tropeçou na Terra devido à falta de capacidade de seus enviados
para a transcendental tarefa.
Muitos e repetidos foram os ensaios,
constante o esforço e continuada a luta, porém faltou a unidade de
ação, essa unidade que anteriormente fácil alcançar ao Mestre pela
mediunidade de Paulo que, submetendo-se a Jesus no caminho de Damasco,
nunca lhe faltou durante esses tempos, comunicando com bastante
exatidão ao homem a sua palavra principalmente nas etapas
subseqüentes, não que diminuísse a mediunidade do Apóstolo, mas sim
que lhe foi adverso o ambiente e em nenhum caso o favoreceram as
circunstâncias, o referente, ao menos, como que para dar lugar à
clareza e segurança das manifestações a que agora alcançou, devido
em grande parte às suas recordações retrospectivas que lhe servem de
sólida base para não esmorecer em sua tarefa, apesar da incredulidade
e oposição dos próprios cristãos que pensam que São Paulo havia de apresentar-se-lhe como
um ser extraordinário, uma personalidade rodeada de portentos e
milagres, não já um homem como os demais, muito mais desprendido, que
a generalidade, o material e convencional, principalmente no cumprimento
de sua missão, porém sem transparecer nada que possa fazer dele um ser
superior.
A tradição cristã, muito exagerada quanto ao valor dos
homens, converteu os apóstolos, que eram sumamente humildes de
posição e compreensão, em personagens de grande valia, isto é e foi
a causa de muitos erros. Estes homens eram unicamente extraordinários
por sua fé, sinceridade e vontade ardente assim como por seu grande
amor ao Mestre, porém se houvessem tido suficiente adiantamento que
lhes permitisse recordar o passado, durante suas encarnações, não
teria faltado ao Cristianismo a unidade no esforço e na direção
única, que só de Jesus podia vir. Pelo contrário, nem bem retornados
à vida humana, esqueciam todas as suas promessas e toda a noção sobre
o verdadeiro propósito e fins precisos de sua missão, vendo-se
geralmente, devido a isto, lutar em campos opostos, como sucedeu durante
a reforma, em que ambos os campos conduziam-se mal, e muito antes
também com as heresias e os trabalhos do livre pensamento.
Muito
difícil é e somente por exceção, em muito reduzidos casos, pode ter
lugar a recordação das vidas sucessivas devido a que a memória do
homem reside essencialmente no cérebro, podendo recordar, por
conseguinte, somente os acontecimentos que se tenham gravado nele
durante cada vida. Por isso não se recordam os sonhos que eu diria
verdadeiros, quero dizer, aqueles em que, encontrando-se o corpo
completamente dormido, vive unicamente a vida vegetativa e não pode o
espírito fazer uso de nenhum de seus órgãos por cuja razão se vê
obrigado a agir sem o corpo; de maneira que, exteriorizadas todas as
suas atividades, porque o espírito nunca pode ficar inativo, resulta
viver longe do corpo por meio do corpo que lhe é próprio e dos fluidos
que tira do corpo e que o mantêm unido a ele, assim como a esse meio
especial resultante das atividades de todas as pessoas dormidas também
exteriorizadas, que pensam e recordam sem os empecilhos do cérebro,
porém, sem deixar, em compensação, neste as impressões que
constituem a recordação para o homem; os médiuns e os "mãos
Santas", alcançam cousas imensamente mais portentosas que os profissionais do magnetismo, devido à sua
maior fé e em geral mais elevados sentimentos. Mas, volvamos aos
propósitos destas linhas.
Encontrando-me, como disse, ao corrente de
todos os esforços de Jesus para restabelecer a verdade e pureza de suas
doutrinas, chegando a ser, muito cedo, eu mesma uma de suas
colaboradoras, tive constantemente o pesar de ver desbaratados seus
planos pela razão cruel do completo esquecimento de todo o propósito
tomado na vida espiritual, pelos que voltavam à Terra onde seguiam
geralmente rotas opostas às que haviam escolhido. Contudo, o esforço
que cada qual fazia para ser virtuoso, a oração e a fé em Deus, assim
como a experiência paulatinamente acumulada, foram-lhes dando maior
consciência de todas as cousas. Compreenderam que para dominar o
ambiente fluídico, sem o qual nada se alcança, são necessárias
também a saúde e as forças físicas, tendo se empenhado em seu
desenvolvimento, principalmente Marcos, Mateus e Paulo; Pedro e João
trabalharam mais no sentido extracorporal. Deveis saber que a saúde e a
força física dependem em parte do desenvolvimento do corpo astral, e
como nada se perde, tampouco perde-se o desenvolvimento que em cada vida
alcança o homem para seu corpo, pois a envoltura do espírito ao
separar-se do corpo material, leva consigo todo o melhoramento, toda a
aptidão adquirida e até a tendência para adquirir ou vencer as
enfermidades de que sofreu o corpo e pôde vencer. Deste modo, melhor
preparados, os Apóstolos sempre sob a direção do Mestre lograram
promover, no século XIX, um grande renascimento religioso,
principalmente em Norte América, na esperança de poder derivar dele um
progresso suficiente da religião para voltar à pureza do primitivo
cristianismo. Muito depressa, porém, se aperceberam que as
preocupações de raça e de seita dominante naquele ambiente não se
prestavam para levar a cabo tal propósito. Dirigiram então suas vistas
para a América do Sul.
Todos os apóstolos, menos Pedro e João, tinham
voltado à Terra. Os apóstolos não se reconheceram entre si, menos
Paulo, que bastante titubeou no princípio de sua missão, chegando até
a ridicularizar a Jesus, apesar de ser de temperamento muito religioso,
Paulo os foi reconhecendo a todos mais tarde, devido ao grande
desenvolvimento que em sua atual vida alcançou pela mediunidade, da qual precisamente se serviu Jesus para ditar a
presente obra e com a qual se restabelece a primitiva pureza Cristã,
livre de toda a fraude. Esta mesma exposição que faço demonstra que o
verdadeiro desenvolvimento do cristianismo é devido ao esforço dos
apóstolos e seus discípulos sob a direção de Jesus sem nada de
milagroso nem de sobrenatural; inculcando, isso sim, ainda que
lentamente e de forma que cada qual vá compreendendo por si mesmo, que
existem grandes potencialidades no espírito que ele deve desenvolver,
principalmente pela virtude e os sacrifícios, potencialidades que
chegarão a fazê-lo senhor da Natureza.
Para abreviar, direi: que Pedro
e João, do espaço, conseguiram estabelecer em meados do século XIX,
um núcleo importante em Buenos Aires. Esse importante núcleo foi quase
constantemente presidido por Santo Estêvão, eleito para o lugar por
sua fé, constância e laboriosidade inquebrantável, apoiado por uma
moralidade sem jaça, secundando-o muito de perto José de Arimatéia,
que também nesta ocasião ajudou a Jesus com sua posição social
distinta e opulenta, pois que, como já vos disse, nada se alcança por
milagre, sendo que entre os homens e para todo o labor humano,
necessários são meios humanos e ainda quando feito foi pelos esforços
do Messias a aproximação do Céu à Terra, sempre que a esta se deve
chegar, por meios terrestres o temos de fazer.
Santo Estêvão também
desfrutava de uma posição social distinta e pecuniariamente
desafogada, assim como o evangelista São Mateus, porém, realmente
opulento unicamente o era José de Arimatéia. São Mateus distinguiu-se
principalmente por sua eloqüência, com a qual chegou em diversas
ocasiões a comover os mais elevados da Sociedade de Buenos Aires.
Barnabé desempenhava as funções de tesoureiro e ao mesmo tempo de
vigilância da associação; direi seu nome, como o mais modesto e menos
conhecido que os dos anteriores; vou dá-lo para que possa servir de
base para o conhecimento a que alguém possa chegar, do fato que nos
ocupa: chamava-se José Rodríguez e era espanhol.
Paulo, muito jovem
ainda e conduzido inconscientemente do espaço por Pedro e João,
apresentou-se à Associação que, se bem que fundada em sua origem
somente por doze membros, muito numerosa havia chegado a ser naquela
ocasião, porém, cousa curiosa, repetiu-se a desconfiança e o temor que houve antes
quando os apóstolos não quiseram recebê-lo, renovando três vezes,
inutilmente, seu intento até que Barnabé, o mesmo que antes, o
apresentou pessoalmente. Paulo levou depois Marcos, não o apóstolo,
mas sim o discípulo de Pedro, o mesmo que com Barnabé o acompanhara em
sua viagem a Roma aonde ia evangelizar o Ocidente em nome do Senhor.
Ambos foram muito queridos, como já o era Barnabé, por sua
laboriosidade e constância apesar de, do mesmo modo que na época
evangélica, Paulo ter atuado mais fora da associação que dentro dela.
O apóstolo Marcos permanecia então no espaço; digo espaço, porque se
bem que tudo existe dentro do espaço, os homens formam parte da Terra e
não se encontram diretamente no espaço; refiro-me pois, ao dos
espíritos. A Paulo, por sua mediunidade, nunca lhe faltaram sinais e
até conversações do mundo dos espíritos, mas temia por não ver nada
perfeito nos demais homens, e por outra parte Pedro e João
invisivelmente o velavam para evitar todas as comunicações até que
seu tempo chegasse; porém, tão depressa conseguiram cercá-lo dos
meios que dentro da associação lhe serviam como elementos da força
para lutar contra os espíritos do mal que se empenhavam violentamente
em destruir a sua obra, Paulo pôde ser desenvolvido por eles com
segurança, dando-lhe paulatinamente a recordação do passado para que
pudesse ter melhor consciência da obra que lhe estava encomendada, pois
de outro modo, devido a seu espírito investigador e demasiado positivo,
qualidades que já anteriormente haviam embaraçado suas intimidades
para com os apóstolos, a sua obra não podia ser conduzida dentro de
uma associação de um caráter um tanto místico e porque o regulamento
proibia todo o trabalho medianímico, fora da sede da associação e
qual não estivesse sob a imediata direção da Comissão espiritual que
se havia constituído para dirigir do espaço os trabalhos de tal
natureza, que tantos perigos entranham no homem. Paulo foi amplamente
autorizado a trabalhar fora da sede da Associação, assegurando-se-lhe
toda a proteção espiritual possível.
As lutas e dissabores que teve
que sofrer Paulo por sua obra são pouco menos que indescritíveis,
salvando-o seu poder excepcional, a ajuda e perícia de seus protetores
invisíveis que o rodeavam de dia e de noite, com uma dedicação e
denodo incomparáveis.
Grande parte de sua obra permanece desconhecida,
porém seus efeitos propagam-se já por todas as partes e José, o que
foi meu esposo, não permaneceu muito tempo no seio da tal agremiação,
devido a seu caráter um tanto duro e orgulhoso, ainda não modificado
suficientemente desde aqueles tempos. Era entretanto bastante laborioso
e culto para poder prestar bons serviços à idéia e o fez, ainda que
fora do núcleo.
Tadeu, que ainda está entre vós, (1) no ano de 1905,
recebeu da Itália, sua terra natal, a Vida de Jesus ditada por Ele
mesmo, traduzida do francês para o seu idioma, e a "Sociedade
Científica de Estudos Psíquicos" (2) fê-la traduzir para o
castelhano, encarregando-se deste trabalho o seu próprio Presidente,
que conhecia bem esse idioma por haver feito os seus estudos na Itália.
O segundo tomo foi ditado depois ao médium X.X., instado para isso, por
Jesus, em repetidas ocasiões. Depois de uma aparição de Jesus ao
médium, além de diversas notáveis manifestações, foi que ele
acedeu, plenamente convencido da intervenção direta do Mestre.
Recebeu-se então a comunicação, cercando-a de um controle muito
grande e rigoroso, razão por que demorou tanto a completar-se a segunda
parte, recentemente terminada, com a adição de dois novos capítulos,
o XXV e o XXVI, e a presente comunicação.
Também as outras mulheres
seguiram, como eu, prestando a sua cooperação à grande obra iniciada
por Jesus há quase dois mil anos, encarnando elas também, de
preferência, no sexo feminino. Salomé fez parte do núcleo durante a
maior parte de sua vida, prestando importantíssimos serviços com sua
mediunidade.
E seu filho Tiago ajudou Paulo com muito interesse e
carinho, com outros dois apóstolos que não vou nomear. Marta
evangeliza na cidade de Córdova, e Madalena trabalha também com afinco
dentro e fora do núcleo, nesta capital. Eu também cooperei neste
grande movimento, consagrando-lhe a maior parte de minha última
existência e mantendo estreitas relações, desde Espanha, com o
núcleo de Buenos Aires. E foi esta a época de maior luz para o Cristianismo definitivamente libertado de todo o
dogmatismo que Jesus sempre combateu fora de toda a religião, porque o
Cristianismo é a religião. Os discípulos dos discípulos do Senhor,
espalhados por todo o mundo, levam a boa nova por todos os âmbitos do
Globo, fazendo estremecer os templos idólatras, desde os seus
alicerces, para que se compreenda a idéia de Jesus, que se reconheça o
universo inteiro como o templo digno do Altíssimo.
Louvores a Jesus a
quem tudo isto é devido! Jesus é um irmão nosso, é um dos nossos
disposto sempre a aproximar-se de todo aquele que sinceramente o chame,
mas por sua elevação e por sua alta missão, o chamamos: O Senhor, sem
fanatismo, apenas como sinal de amor e gratidão pela obra de seu imenso
amor. Em seu nome despede-se de vós e vos abraça.
MARIA
________________
(1)
- Recentemente voltou ao mundo espiritual. - Nota do Sr. Rebaudi
(2)
- De Buenos Aires.
___________________________
FIM
DO CAPÍTULO 48