COMUNICAÇÃO DO APÓSTOLO MATEUS
A comunicação que eu dei, poucos dias
faz, (1) para ser incluída
nesta transcendental obra, dada com a sinceridade que me é
característica, resultou um tanto dura para o elevado critério do
Messias, por sua índole de severa justiça.
Disse-me o Mestre:
"Reconheço o mérito e a veracidade de teu trabalho; mas minha
obra não é obra de julgamento mas sim de amor". - "Eu não
vim para julgar, senão para semear o amor entre os homens." -
"Guarda-a, pois, em estrita reserva, para os que tenham que levar a
cabo o restabelecimento da justiça, no que dela tinha ficado velado
pela ação do tempo e da malícia humana; e traze para a obra somente a
elucidação dos pontos de que te encarreguei, porquanto a tua
comunicação, como as dos outros Apóstolos e a de Maria, constituem
capítulos da mesma, como que desenvolvendo-se dentro da ordem e estrita
continuidade dela". - "Graças devo dar a Deus; continua o
Mestre, pela estrita verdade conseguida em tudo isso com o médium que
me serve de instrumento, pois no livro inteiro não passou uma única
palavra que não seja minha, de Maria ou dos Apóstolos, que nele
colaboraram."
"Louvado seja o Senhor que assim consentiu que minha volta entre
os homens, desta forma, resultasse tão real e verídica, como se eu
mesmo ressuscitado em corpo, vos tivesse falado com meus próprios
lábios.
Confirmadas com o que fica dito, as palavras de Jesus,
passarei a ocupar-me do tema que encabeça estas linhas, repetindo
somente, com respeito à minha outra comunicação, que deve levantar-se
a Judas o cruel julgamento que sobre sua memória pesa, porque sua
traição foi unicamente o efeito de sua fraqueza diante das sugestões
malignas que continuamente o trabalharam, sob o esforço de interesses
inconfessáveis.
Ninguém ignora que há em nós uma dupla
consciência,
efeito de nosso atraso, a consciência do espírito livre e a do
encarnado; ainda devemos admitir
uma consciência intermédia,
a
consciência do espírito do encarnado quando se desdobra, parecendo
que, quando dormis ou simplesmente estais distraídos, vossos espíritos
se encontram muito longe do corpo, atuando conscientemente fora dele. É
claro que não pode existir a recordação da sua atuação, desde o
momento que o cérebro não recebeu impressão alguma a respeito dela,
sendo sabido que a memória do homem é somente cerebral.
Bem se diria
afirmando que o espírito atua com uma nova personalidade em cada
encarnação, pois que o cérebro vai recolhendo paulatinamente todas as
impressões que lhe chegam do exterior pelo contínuo e agitado
movimento do meio que o cerca. Pelos órgãos do ouvido, da vista e do
tato, sem cessar se vê impressionada a massa encefálica, onde tudo se
grava e se associa de acordo com as diversas circunvoluções que a
formam, constituindo-se assim a memória, o juízo e o raciocínio.
Verdade é que tudo isto tem lugar sob o controle do espírito, porém
ele, não dispondo de outros meios para a sua realização e
manifestação dentro do mundo de que forma parte, deve conformar sua
consciência dentro do círculo que tais meios lhe oferecem. Tudo o que
o homem tem gravado no cérebro constitui, portanto, as suas
recordações, seus conhecimentos e os materiais para a atuação de sua
consciência, que resulta, como se vê, muito diferente da verdadeira
consciência do espírito.
Para nós não existe a divisão do tempo que
regula entre os homens, e somente nos guiamos pela sucessão dos fatos,
no meio dos quais temos vivido e que de certo modo forma a parte de nossas
atividades; por isso não calculamos as idades e é assim que, fazendo
talvez uns trinta e tantos anos, segundo ouvi dizer entre vós, que
deixei minha envoltura corporal, parece-me entretanto que ontem vivia
ainda com os homens, razão, precisamente, que induziu o mestre a
encarregar-me do tema proposto, porque deveria eu elucidá-lo mais
humanamente que os outros Apóstolos.
Disse já que na minha última
encarnação fui Rafael Fernández, tendo-me ocupado não pouco, ainda
quando universitário, de assuntos filosóficos e religiosos, em
estreita relação com o cristianismo, fazendo assim justiça ao meu
passado e às benéficas influências do Mestre, muito longe estava
entretanto de acreditar que tal atuação constituía, de certo modo,
uma recordação do que, uma vez deixada a matéria, havia de
encontrar-me aqui e que muitos sonhos e fantasias de minha vida, que eu
considerei faltos de fundamento, constituíam na realidade verdadeiras
recordações do passado, resultando assim ter sido mais consciente nos
momentos em que me havia considerado privado de toda a consciência. Sem
dúvida, em muitas circunstâncias da vida humana nos assaltam, sem nos
apercebermos, recordações do passado, sendo que falta-lhes o controle
da consciência, como disse João devido a que a consciência humana
unicamente pode desenvolver-se dentro dos elementos que lhe emprestam as
impressões cerebrais.
Como se vê, a dupla consciência é um efeito
natural do esquecimento do passado e é necessário que este vá
modificando- se, a fim de que o espírito possa trabalhar com eficácia
no sentido do seu verdadeiro progresso.
Paulo descobriu que, o que ele
chama desdobramento voluntário, quer dizer, a faculdade de desdobrar-se
quando se deseja, durante a vigília, é o que mais ajuda para a
recordação do passado. Por isso ele formou escola em tal sentido,
indicando os métodos para o caso. Este bom companheiro, apesar da
recordação que guarda a respeito do passado, (2) chegou a esquecer-se do
seu mandato, de tal forma que, devido aos seus estudos e ao ambiente
científico que o rodeava, chegou a olhar com desprezo o próprio
Mestre, a ponto de apontá-lo como um vagabundo, por não ter lar nem
meio de vida conhecidos. Era, dizia, um iluminado ignorante que
arrastava massas mais ignorantes do que ele. Eu o digo, porque ele
próprio o confessa. Verdade é, segundo afirma, que suas recordações
a respeito do passado, recentemente começaram a manifestar-se e com
nitidez aos trinta anos, aclarando-se e manifestando-se com muita
facilidade depois, devido à sua mediunidade e à faculdade de
desdobramento que conseguiu dominar quase por completo.
Três vezes,
refere Paulo, em seus desdobramentos não pôde voltar a seu corpo e
que, se não fosse pela intervenção dos bons espíritos que o
introduziram em seu organismo, com a maior facilidade teria morrido.
Os
espíritos aconselham que se avise os Protetores antes de entregar-se um
encarnado a exercícios de desdobramento em estado de vigília.
Os
espíritos protetores são os que antes se chamavam Anjos
Guardiães,
pois se consagram especialmente na custódia dos homens e eles são os
que, durante o sono, ajudam os espíritos dos homens a separarem-se da
sua envoltura corporal para que deixem por alguns momentos a
materialidade da vida humana e gozem de certa liberdade espiritual,
comunicando-se com os seres queridos que os precederam no Além e de
quem recebem novo alento para as lutas da vida material assim como
ensinamentos e conselhos. Certamente que, disto não se lembra o homem
ao despertar, porque o cérebro não pode guardar impressões do que
não passou por ele, porém sempre fica um reflexo disso, o estado de
intuição ou disposição favorável para o que se há de fazer. Não
se deve crer que durante estes desprendimentos o espírito do encarnado
vá atuar realmente no plano espiritual, mas sim em um plano
intermediário a que Paulo chama plano fantasmático ou simplesmente
plano extracorporal.
Fantasmático o chama porque é o plano dos
fantasmas, esse ambiente em que conseguem tornar-se visíveis os que
costumam chamar fantasmas, que as crianças mais sensitivas que os
adultos vêem com terror, enquanto que não são mais que espíritos de
pessoas vivas, os quais tornam-se visíveis algumas vezes para todos, devido ao corpo fantasmático, que os envolve,
formado pelos fluidos vitais do corpo mediante os quais o perispírito
se liga ao corpo.
Os fantasmas que são visíveis também podem ser
fotografados, como muitas vezes se havia feito já durante a minha
última encarnação.
O espírito do encarnado, desdobrando-se, pode dar
comunicações aos vivos, mediante a ajuda de seus protetores. Paulo as
tem dado umas vezes com este nome e outras, que são a maioria, com o
atual nome.
Não deve confundir-se o citado plano intermediário com o
que os espíritos chamam zona limite, que separa um plano do outro e
cujo ambiente é algo aterrador por sua atividade combatente. Daí vêm
geralmente os pesadelos, quando mal desdobrado o mortal, pelo mau estado
de sua saúde muitas vezes, o acompanham fluidos afins com tal plano;
mas não é esta a oportunidade para tratar de tal assunto, direi antes,
que muitas vezes conseguem os protetores, depois de um bom
desprendimento, que o encarnado guarde a lembrança de sua atuação
durante o desdobramento e então dizeis ter tido um sonho lúcido. Nada
se recorda geralmente do sono profundo e é porque o sono unicamente é
profundo quando o espírito do encarnado atua distante do corpo. A
mediunidade, assim como facilita o desdobramento, facilita a lembrança
do passado, do mesmo modo que a influência dos desencarnados é muito
maior nos médiuns que nos que não o são. Por outra parte, as boas
influências que sempre acompanham as pessoas que sempre levam uma vida
regular e de bons procedimentos, favorecem grandemente tudo o que se
refere ao medianismo e aos desdobramentos, sem que por isso deixe de ser
necessária a prática de tais faculdades para obter seu
desenvolvimento. A zona limite encontra-se cheia de espíritos
inferiores e também de espíritos sofredores que, por suas condições
momentâneas, se encontram à altura desse meio ambiente; sofrem talvez
um castigo, ou seus perseguidores, sempre de má-fé, se aproveitam
deles, em virtude da malfadada lei de talião, para fazerem sofrer
repetidamente suas faltas aos espíritos fracos e imprudentes.
Faz-se-lhes recordar a sua dívida, apesar de já a terem pago,
exigindo-lhes novo pagamento. É indubitável que os espíritos que
assim sofrem purificam-se nesse ambiente e progridem.
A lei de Deus é lei de amor e de progresso,
mal pode atribuir-se-lhe portanto a paternidade da lei de talião, lei
de vingança e de retrocesso; tudo se paga indubitavelmente e em verdade
o mal que se faz aos outros redunda sempre em sofrê-lo por fim o seu
autor, mas não da maneira que os homens supõem, pois somente o bem é
boa moeda; o sofrimento é conseqüência do mal que se fez, mas o mal
feito, unicamente com o bem se redime. Bem disse por isso o Mestre:
"Só pelo amor será salvo o homem".
Na
zona limite de que nos
temos ocupado, emprega-se uma gíria quase falada, incompreensível para
vós. Daí é que vem a palavra colpino e desta deriva-se o verbo
colpinar. As enfermidades dos homens, para eles são devidas a
colpinamentos. Esses espíritos parasitas que vivem entre os homens e a
expensas dos mais fracos são colpinos. Indubitavelmente tudo é um
dano, tudo é mal que eles fazem, porém o que é preciso notar é a
hipocrisia com que procuram justificar o dano que causam.
A indicada
palavra vem de culpa, quer dizer que o colpinado sofre a conseqüência
de uma culpa; eles são pois os juizes que avaliam a culpa e a castigam
sempre em benefício próprio.
Para nos defendermos destes
colpinamentos, que podem realmente dar lugar a um sério mal,
encontramos o seguinte:
Pode doer ao colpinado um membro ou toda a
extensão de um músculo, uma artéria ou um nervo, porém procurando,
encontra-se o ponto bem circunscrito, muito mais dolorido. Comprime-se
for temente com um dedo esse ponto enquanto se detém a respiração o
mais que se possa, e se repetir a operação várias vezes ao dia, com
este processo quase sempre desaparece o mal. Deve-se recordar que,
detendo a respiração,
se desenvolve uma grande energia magnética.
A
região, mais que qualquer outra, escolhida para os colpinamentos é a
cabeça, a seguir os intestinos e depois o coração. Pelos intestinos
se colpina também o coração e pela cabeça se colpina todo o corpo.
Os homens que levam vida inativa e são de caráter débil vivem sempre
colpinados; porém ninguém se livra absolutamente desses parasitas
espirituais.
Guardando a lembrança do passado, todas estas cousas se
evitariam, ao passo que agora até difícil nos é fazer-vos
compreendê-las, porque estais sempre dispostos à incredulidade a
respeito do que não podeis ver, pela enorme diferença que existe entre
o corporal e o extracorporal.
Desenvolvei, pelo menos, vossas aptidões
para o magnetismo curativo, com o qual não somente podeis fazer muito
bem mas também chegareis ao mesmo tempo a desenvolver as vossa
aptidões psíquicas, porém ao magnetizar, tende cuidado com quem o
fazeis, porque se um mau magnetizador transmite um grave perigo,
não é
menos grave o que ameaça a um bom magnetizador quando pretende
beneficiar um ser inferior. É o mesmo que com a caridade, que
é
preciso ver a quem e como se faz a caridade,
para não sermos vítimas,
como muitas vezes sucede, do bem que se fez.
Muito estranho vos
parecerá o que fica dito e é, porque tendes cheia a cabeça de
máximas e teorias que muito longe estão de ser o resultado da
prática.
Eis
aqui um fato:
Entre meus amigos conto com o espírito de uma
que foi virtuosíssima irmã franciscana, muito adiantada, ela dizia:
"primeiro está a obrigação que a devoção", e quando havia
enfermos pobres para atender, dizia a suas subordinadas: "a missa,
a confissão e a devoção, tendo enfermos para atender, são esses
mesmos enfermos. - A prática da caridade é a devoção por
excelência".
Devido a tal proceder quiseram tirar-lhe o hábito e
dissolver a sua pequena comunidade, porém ela resistiu e, não querendo
recorrer à autoridade civil, continuou com sua idéia até morrer. Pois
bem, sofre agora muitíssimo pela perseguição de uma multidão de
espíritos inferiores por ela favorecidos. Reclamam-lhe, exigem-lhe o
que ela lhes não pode dar. Perseguem-na e a oprimem, sem deixar-lhe um
momento de repouso. Ela diz: "não tenho forças para afastar esta
avalanche de seres inferiores e que se julgam com direito sobre mim
porque pela caridade rebaixei-me até seu próprio nível".
"Crêem que o bem que lhes fiz não foi por bondade mas por
obrigação que julgam subsistir ainda." Todos nós cercamos e
ajudamos a virtuosa irmã, proporcionando-lhe momentos agradáveis,
porém ela terá que voltar à Terra, já o compreende, para desenvolver
as faculdades que lhe faltam, entre outras a do são critério de como,
quando, e a quem se deve fazer a caridade. E onde está a justiça divina? - se dirá. "Ajuda-te,
que Deus te ajudará, é o rifão aplicável aqui." A justiça de
Deus cumpre-se na eternidade. Essa boa irmã não chegou ainda a merecer
a felicidade, porém alcançou já muitos títulos para isso.
Com valor
e constância, todos chegaremos à meta, entretanto muito há que
aprender e experimentar. Muito tino faz falta em todas as cousas, até
para fazer o bem, porque este pode converter-se em mal.
Levantando e
favorecendo, por exemplo, um malvado com aparência de bom, podemos
armar um inimigo do bem, talvez encaminhar um déspota, em seus
primeiros passos, para as alturas, para sermos depois suas primeiras
vítimas.
Enfim, eu quis com esta modesta comunicação juntar a esta
magna obra um tanto prática se se quiser, humana, e em verdade eu
próprio termino por julgar-me homem e vivendo no meio de vós.
Seria
para mim uma grande felicidade haver atingido meu fim.
Que Deus seja convosco.
MATEUS, Apóstolo.
* * *
Depois de terminado este último capítulo, o médium X.X. evocou o
Mestre para saber se havia alguma cousa a modificar ou a acrescentar à
Obra.
Apresentou-se-lhe Jesus perfeitamente visível, precedido por esse
ambiente Celestial que a seu derredor parece derramar-se e com a mesma
doçura que lhe é habitual respondeu-lhe:
"Muitas cousas teria que dizer; porém os homens não me
compreenderiam; quanto à Obra, ela está terminada; nada, nada tenho
que tirar-lhe e nada que acrescentar-lhe. Tudo isto é meu e volto a
afirmá-lo, como suas são as comunicações dos apóstolos e de Maria,
que formam capítulos desta Obra".
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Eis toda a Verdade que o momento comporta e
que precisava de ser mostrada para o alcance da luz e da fé para o
avanço do progresso humano tanto material, quanto espiritual. Este é o
nosso quinhão que compete a cada qual, no compromisso que temos com a
verdade, e a sua restauração. - O Site.
LOUVADO SEJA DEUS NOSSO PAI CELESTIAL
E NOSSO SENHOR JESUS CRISTO - O Nosso
Redentor.
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(1) - Dita
comunicação, editada em folhetos, a "Associação Cristã
Providência, Biblioteca Pública" a envia grátis. Solicite-a,
calle Herrera 1680. Buenos Aires.
(2) - Sabemos que em certa ocasião levou ao Doutor Cosme Marinho,
Diretor da Revista "Constância", um artigo referente a um
sucesso do qual tinha sido vítima havia uns outros mil anos; pedia-lhe
a sua publicação por tratar-se de algo que a história parece negar,
tendo a certeza de que as escavações que se fazem no Egito
confirmariam as suas afirmações. (A publicação não se fez.) - Nota
do Sr. Rebaudi.
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FIM
DO CAPÍTULO 49