Nenhuma
obra teve tanta ressonância nestes últimos tempos como a medianímica,
intitulada VIDA DE JESUS, DITADA POR ELE MESMO.
Basta dizer que todas as
revistas que se ocupam de estudos psíquicos e psicológicos
tributaram-lhe grandes elogios, tanto pelo estilo e natureza
transcendental da obra, quanto pela abundância das provas colhidas em
apoio de sua autenticidade (1).
Eu mesmo, tão inimigo do livro e até do
autor (2), tive que curvar-me ante a evidência dos fatos de caráter
medianímico (3) e pessoal, que me assediavam sem cessar, corroborando o
que já tinha sucedido em torno da mesma obra e aumentando
consideravelmente seu valor como obra medianímica, pela evidente
autenticidade de sua origem.
Um
só exemplo vou apresentar (o de menor valor talvez) pelo curioso e
inesperado de sua manifestação.
Em minhas constantes discussões
contra a personalidade de Jesus costumava dizer que não era possível
crer que a Inteligência Suprema, Deus mesmo, fosse tão pouco hábil
que mandasse seu Messias, revelador da nova doutrina, a Jerusalém,
desconhecendo as vantagens que poderia ter alcançado sua predicação,
do prestígio e domínio que Roma e Atenas exerciam no mundo, a primeira
por seu poderio militar e a segunda por sua cultura, porquanto nenhuma
força de expansão teriam de adquirir as novas doutrinas no meio de um
povo que carecia do menor prestígio no mundo civilizado, não contando
com poderio militar, nem com um comércio de importância, nem com
riquezas, nem com indústrias, artes, letras, nem ciências capazes de
dar-lhe alguma notoriedade.
As contestações que recebi a este
argumento, levado ao próprio terreno do adversário, encontrei-as
sempre frouxas e mais me pareciam evasivas. Porém, eis que muito tempo
depois, um ano talvez, de haver repetido o argumento e quando me
encontrava em sessão experimental na Sociedade Científica de Estudos
Psíquicos, completamente alheio meu pensamento a questões filosóficas
ou religiosas, ou que simplesmente se relacionassem com Jesus,
ofereceu-se por minha própria mão, a seguinte comunicação
semimecânica (4):
"Querem hoje os homens ver no Messias, a quem antes
negaram, não já o mediador, como a vontade do Pai havia estabelecido,
senão a personificação nele, do próprio Pai que o enviou (5).
Jamais, porém, saíram dos lábios de Jesus tão temerários
ensinamentos; mas preciso é, irmãos meus, curvarem-se perante os altos
desígnios de Deus, que por meios incompreensíveis para o homem, cerca
a verdade em cada tempo da forma de prestígios que
mais lhe convém, para que sejam cumpridos os propósitos de seu novo
ensinamento entre seus filhos; honrai, pois, assim ao Messias, nessa
época de sua filiação divina na Terra, honrai-o com a verdade que o
dito por ele comporta, no meio do tempo e dos acontecimentos que o
rodearam . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . A superstição e o desejo do maravilhoso, fomentados pelas fantasias de
um discípulo que muito distante se encontrava dos verdadeiros
propósitos do mestre, rodearam a minha pessoa dos prestígios da Divindade, pela divulgação de falsos milagres, concorrendo com isto
para que corressem as turbas ao encontro do portador da boa nova, do
novo Profeta, do Messias tantas vezes anunciado, do salvador prometido e
esperado tão pacientemente pelas gerações que se sucediam. Eis, pois,
explicado o verdadeiro milagre, do qual dependia a notoriedade
avassaladora do filho de humilde carpinteiro de Nazareth, a rápida
divulgação de seus ensinamentos e a prova de tão indiscutível
autoridade que se levantava frente a frente das Sagradas Escrituras,
frente a frente do orgulhoso Sinedrim e frente a frente da tradição
inteira com todos os seus profetas e com todos os seus divinos
mensageiros. Assim também teve que suceder, pois a criança só
comporta a linguagem da criança e não era possível que se tornassem
estéreis os esforços do celeste semeador da nova semente, ao revelador
da palavra do Senhor, que vinha em seu nome estabelecer a paz entre o
império da Terra e os impérios dos Céus. Se certamente sua palavra
não estava destinada a ser compreendida e seguida inteiramente durante
o tempo de sua presença entre esses homens atrasados e rudes da
Judéia, ela não obstante tinha seu papel de importância que
desempenhar no seio do único povo que fazia da religião uma
necessidade e da prática de suas doutrinas uma parte inerente à sua
vida diária. Era daí, de onde devia tirar sua força de expansão, e
tirou-a, não sem que dela algo aproveitasse também o mesmo povo hebreu
tratado com bastante dureza mais tarde, em conseqüência do horrível
crime de haver empapado as mãos no sangue do Enviado Celeste, que vinha
levantá-lo da abjeção em que se encontrava, pelas rudes condições
de sua vida devidas ao atraso moral e
intelectual, em que gemia.
"Erro
é o afirmar a falta de oportunidade para a nova revelação na Judéia,
porquanto não era o prestígio do êxito, não era a vitória do forte
contra o fraco, não era o triunfo das paixões sanguinárias e o
domínio estabelecido pelo terror, o que podia dar força de expansão
à doutrina do amor aos nossos semelhantes, do perdão das ofensas e do
retribuir o bem por mal. São justamente os fracos e os vencidos,
os que sofrem, os que têm sede e fome de verdade e de
justiça, são estes,
justamente estes os únicos que elevam seus olhares ao céu e suas
preces ao Senhor, e foram justamente os pobres e os deserdados, os
enfermos e os perseguidos, os que eram vítimas da opressão dos
poderosos, foram estes os que recolheram minhas palavras e as levaram
aos quatro ventos.
"Oh!... Não me rechaceis agora, vós outros
porque não me apresento com os sinais da evidência material e com o
prestígio dos grandes fenômenos.
"Sempre o milagre, sempre o
maravilhoso para dar valor à verdade!
"Eu não posso deixar minha
natureza espiritual para entregar-me a exercícios de um fenomenismo material, magnífico para vós, porém indigno da
elevada missão que
venho novamente desempenhar entre vós ao abandonar as elevadas regiões
onde a vontade do Pai me colocou.
"Oh! Não me rechaceis, pois,
não rechaceis minha palavra, que é hoje a mesma de ontem, porquanto
fui sempre vosso Messias, o Filho de Deus que haveis desconhecido, o
Enviado de meu Pai, o Revelador da eterna verdade, assim como da vontade
divina. Não rechaceis, pois, minhas palavras, porque rechaçaríeis a
palavra de Deus. Vinde a mim de preferência pela humildade e pelo amor;
chamai-me com a alma, que sempre me encontrarei onde dois ou mais se
reúnam em meu nome. Não vos enganeis, pois, porque o que agora vos
digo já antes vos disse. Não vos ofusquem a vaidade e os interesses
mundanos. Desprendei-vos de vossas paixões e do apego dos bens
materiais. Pensai em Mim com sinceridade e com amor e Me
reconhecereis." - Jesus de
Nazareth.
Tão
acertada e sábia resposta demonstra um perfeito conhecimento de causa
de quem a produzia que não podia ser outro senão o mesmo protagonista.
Demonstra ao mesmo tempo que a Judéia tinha sido escolhida realmente
com muita antecedência para pedestal da nova revelação e que ao ser
escolhida se procedeu, não ao acaso, senão com inteira consciência
das vantagens que oferecia. A manifestação, portanto, resulta
inteiramente oposta ao modo de pensar do instrumento por cujo
intermédio foi recebida. Por outra parte, a perfeita consciência que
demonstra dos detalhes da obra, não somente prova, com muita clareza,
que é de Jesus em verdade de quem se trata, senão que a simplicidade,
cheia de elevação, assim como a certeza e a veemência das
afirmações, produzem a mais profunda impressão de verdade e de
sinceridade. A dúvida torna-se impossível e tem-se que admitir como
verdadeira a assinatura daquele que deu tal comunicação. Porém, se
isto não bastasse, a "Sociedade Científica de Estudos
Psíquicos", onde se recebeu a série de comunicações que formam,
com a presente, o segundo tomo da "VIDA DE JESUS" (intitulado:
Complemento), constitui por si só a melhor garantia de seriedade e
veracidade, além das numerosíssimas e continuadas provas de
autenticidade que a favor da obra se tem recebido sob formas diversas e
por meio de vários intermediários. O Sr. Ernesto Volpi, cavalheiro e
distinto chefe do exército italiano, também diretor do Vesillo
Spirita, disse que nenhum cristão deve carecer de um exemplar da VIDA
DE JESUS DITADA POR ELE MESMO e que dela deveriam publicar-se numerosas
edições em todos os idiomas, não se podendo fazer maior bem que o de
sua divulgação. Por minha parte, posso assegurar que não conheço
ninguém que haja lido este livro e não se tenha convertido em seu
entusiasta propagandista.
OVIDIO
REBAUDI
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(1)
- É sabido que tanto a 1ª como a 2ª parte foram recebidas pela
mediunidade de escrita mecânica e submetidas a um rigoroso
controle.
(2)
- Muitos, guiados exclusivamente por sua boa-fé, tomaram a mal minha
opinião contrária à personalidade de Jesus; porém eu creio que
merecem mais respeito as opiniões formadas por meio da investigação e
do estudo, com inteira honradez e sinceridade e sem outro propósito que
o de chegar à certeza, que as opiniões aceitam, como por herança, com
os olhos fechados e sem o menor esforço intelectual. Considero, não
obstante, dignas do maior respeito todas as crenças sinceras, porém me
ocorre perguntar ao leitor se não lhe parece que algo de muita
transcendência deve haver sucedido, para que eu, contra meus interesses
e tendo a meu favor os argumentos, provas e dados numerosíssimos, que
os investigadores modernos lograram amontoar ao redor da tese que eu
defendia, que algo de muita transcendência, repito, devia ter sucedido
para que eu mesmo me confessasse em erro, passando-me com armas e
bagagem ao campo contrário.
(3)
- Inútil seria dar aqui maiores detalhes sobre este particular, a não
ser que o fizesse com muito desenvolvimento, pois, não se
compreenderia, pela forma inteiramente espiritual das manifestações,
que se afasta um tanto da materialidade tão procurada no fenomenismo.
(4)
- Fiz já declaração pública de que obtive a convicção no mais
além, devido à minha própria mediunidade de escrita mecânica, a qual
perdi uma vez adquirida minha completa convicção. Em troca escrevo sob
ditado com assombrosa facilidade, porque recebi desenvolvimento especial
para isto. Tudo isto é dito não sem grande esforço, pois, no meio da
ignorância que a respeito destas coisas ainda nos rodeia é grande o
prejuízo que sofro como profissional. Mas estas coisas devem sabê-las
os adeptos que me honraram com sua companhia e ajuda.
(5)
- Sendo um enviado de Deus, converteram-no depois no próprio Deus. É o
que quer dizer.